28 de setembro de 2021
Marcas de Portugal: Sonia Salim
27 de setembro de 2021
Uma Estrela entre a beleza e a loucura: Chico Lopes
25 de setembro de 2021
estações: Everardo
24 de setembro de 2021
21 de setembro - dia da árvore: Elenir Teixeira
Caros amigos ela merece que comemoremos o seu dia. Para vocês, meu haicai:
que nos traz a sombra, os frutos,
o oxigênio e vida.
Se és bem capaz de sentir
e amar o afago
das árvores,
pois, pertencendo ao Universo,
tu as abraças como irmãs:
Isto é Fraternidade!
23 de setembro de 2021
Eu Menina Toda Prosa... e Alguma Poesia: Ilnéa País de Miranda
Araruama |
"Havia só a menina
De corpo livre de tudo,
De alma livre de mágoa
Marcando os pés pequeninos
Em sua areia salgada.
Molhando o azul do vestido
No respingo verde da água ."
Opinião dos Leitores do CLIc
Rita Magnago
Rita Magnago, carioca residente em Maricá, é frequentadora assídua do Clube de Leitura Icaraí (CLIc), que se reúne na Livraria da EdUFF mensalmente. Segundo Carlos Rosa, é uma “poetisa de versos claros nos quais percebemos reflexões maduras, plenas de poesia”. A autora é jornalista e, além de poesia, publica contos e crônicas. Travessia do Verso traz poemas que falam das nossas travessias pessoais.
* * *
A Autora do mês e a fundadora do CLIc |
Obrigada por me "trazer" menina.
Obrigada por minhas lágrimas de recordações...
Ler você, em alguns momentos, foi como reviver um pouquinho de minha infância.
Também tive um tio muito querido, considerado por muitos meio "diferente" mas que nutria por mim um carinho puro e que me fez, muitas vezes, me sentir "especial".
Um dia, para desespero de minha avó (eles moravam num sítio) ele me levou para um passeio "logo alí" de moto, que durou umas 3 horas! Passamos na estrada no meio de uma boiada! Pior, descobri que quem levava a boiada era um amigo da escola! Isso tudo para tomar caldo de cana dentro de uma lata amassada numa USINA em Tanguá. No caminho ele parava numas espeluncas no meio da estrada para comermos bolos... Eu, de cara suja de poeira de barro, ainda tinha que escutar que havia sido "achada" num latão ou coisa parecida!
Se fiquei triste? Que nada! Tudo parecia irreal, uma aventura, um sonho, que terminou quando voltamos ao cair da tarde e minha avó estava aflita no portão!
Tantas aprontei Ilnéa, fui bem arteira, moleca mesmo.
Vera Schubnell
Troco alhos por bugalhos
naquilo que o povo assunta
troco as cartas e os baralhos
e continuo "bestunta".
Escrever o que não digo,
vezes há que me proponho,
mas estando a sós comigo...
adormeço... enquanto sonho.
Bem pequena, eu menina,
na menina que ainda sou,
cada vez mais pequenina
enquanto o tempo... passou.
Detrás de tudo, a quietude,
dia, noite... madrugada
no silêncio, um alaúde...
escuto... não ouço nada.
Sol de Primavera
22 de setembro de 2021
Haicais e um poema para saudar a Primavera: Elenir Teixeira
21 de setembro de 2021
Meu Dom Quixote
Meu Dom Quixote(*)
Carlos Benites
Recebi bem cedo pelo Correio um Dom
Quixote, que esperava há várias semanas. O atraso era decorrente da pandemia. O
romance de Cervantes era um sonho de consumo que carregava há muitos anos. Comprei uma edição de 1940, de quase oitocentas páginas, do sebo de um amigo livreiro de Recife. Aberta a embalagem, ainda meio sonolento, além da bem cuidada capa vermelha, uma longa dedicatória na folha de rosto me
chamou a atenção.
Rui. Quando neste fixares o seu olhar,
lembrarás que a instrução é a mais sublime arma que o homem dispõe na terra. E
para te aperfeiçoares, ofereço-te uma obra escrita pelo ídolo da juventude culta,
esperando que sirva de marco inicial de uma preciosa existência. Seu tio Antonio, 10-12-43
Na página seguinte, havia uma assinatura: Rui
Lopes de Castilho.
Eu sempre tive paixão por dedicatórias e
anotações em livros antigos. Adoro imaginar as histórias que o dono do livro teria
vivido. Nesse caso, seriam duas histórias, do tio e do sobrinho. Ajeitei a
almofada na poltrona e nela encostei a cabeça. Peguei o celular e visitei o sítio da Hemeroteca da Biblioteca Nacional para pesquisar nos periódicos antigos
se havia alguma notícia sobre os personagens daquela dedicatória.
Os sobrenomes não eram tão comuns. Haveria homônimos? Se fizeram algo notável, poderiam ter estampado alguma notícia. Seria o tio um advogado famoso? Seria o sobrinho um médico que salvou vidas no incêndio do circo de Niterói?
O primeiro dado encontrado datava de 1950, infelizmente no Obituário. Antonio Lopes de Castilho, amado pai e avô. Foi um baque. Seria o tio? Ficaria sem saber sobre ele. Continuei. E, na busca, um ano depois, O Fluminense noticiou matéria com o título “Duplo atropelamento na capital fluminense”. Temi em ler a notícia, mas tomei coragem:
“O automóvel dirigido por Ari Correia,
de 23 anos, morador de Santa Rosa, trafegava em desabalada carreira pela
Avenida Amaral Peixoto, quando nas proximidades do edifício do Polícia, atropelou a senhora Alda Torres, de 49 anos, que veio a falecer no
local. Na ânsia de fugir, o motorista atropelou o jovem Rui Lopes Castilho, solteiro,
21 anos, que caminhava distraído com um livro na mão. Após colidir com um
poste, Ari foi cercado por populares e algemado por policiais, que chegaram em segundos e evitaram o linchamento do motorista. O jovem Rui foi socorrido e levado ao
Hospital São João e está salvo. Ao “Fluminense”, contou sobre o susto que tomou,
mas confia na recuperação. Disse ainda da tristeza de perder o livro que
carregava. 'Presente de um tio'.”
# # # # #
(*) O presente conto foi selecionado entre os finalistas na categoria "Contos" do Prêmio Off Flip de 2021. Esta versão é a primeira. A versão que enviei para o concurso e que saiu publicada na coletânea, sofreu pequenas modificações, para atender as exigências de formatação do concurso.
16 de setembro de 2021
A tomada de Caiena
A intenção francesa de conquistar um território em domínio português na América, entre a metade do século XVI e início do XVII, foi gradativamente malogrando. Entretanto, nada detinha o contrabando gaulês dos produtos naturais, que se encontrava em abundância na imensa costa do Atlântico, até então povoada quase que exclusivamente pelos nativos. Os pontos da colonização eram ainda muito esparsos e longínquos, mas os portugueses mantinham a primazia na defesa da costa.
Preto no Branco por Wagner Medeiros Junior
14 de setembro de 2021
LEREIAS - O EXÉRCITO DE CAVALARIA: Edmar Monteiro Filho
Umberto Eco afirma que todo escritor cria seu texto imaginando um leitor em especial, aquele que possui informações tais que lhe permitam aceitar as premissas impostas, deixando-se conduzir pelo caminho indicado. Segundo Eco, Alexandre Dumas, em “Os Três Mosqueteiros”, descreve um trajeto percorrido pelo personagem D’Artagnan através de Paris, de tal forma que, de posse de um mapa de época, é possível acompanhar passo a passo seu itinerário. Mas ressalta que, num certo instante, Dumas comete um erro, citando uma rua inexistente no momento histórico retratado no romance. É de se supor que tenha cometido um deslize perdoável. Mas, que dizer se, no mesmo livro, D’Artagnan fosse descrito entrando em uma taberna e se deparando com Cristóvão Colombo?
O enredo de “Os três mosqueteiros” pede que o leitor ignore um possível deslize quanto ao traçado das ruas de Paris, mas perderia toda a sua credibilidade caso descrevesse o encontro de um aspirante a mosqueteiro com o navegador genovês, nascido dois séculos antes. Dumas situa a trama do livro num momento histórico identificável, povoando-o de personagens cuja existência pode ser comprovada documentalmente, como o cardeal Richelieu e lorde Buckingham. Contracenando com estes, Athos, Porthos, Aramis e outros tantos saídos da sua imaginação.
Assim, numa obra de ficção, o autor estabelece implicitamente os limites que entende aceitáveis para sua criação, um espaço dentro do qual sua imaginação se movimenta. Mas quando se trata de usar explicitamente as memórias pessoais na criação ficcional, a questão se complica.
Graciliano Ramos escreve “Infância”, livro de memórias, anos depois do lançamento de “Angústia”, texto ficcional. Pelas páginas do primeiro desfilam personagens extraídos das lembranças infantis do autor. No segundo, personagens fictícios surgem revestidos com as características daqueles surgidos de sua memória. Por fim, em “Memórias do Cárcere”, Graciliano afirma que indivíduos que compartilham seu calvário durante o período em que amargou os cárceres getulistas são personagens que criou em “Caetés” ou no próprio “Angústia”, embaralhando definitivamente as referências.
Processo semelhante ocorre com relação aos contos do escritor russo Isaac Babel.
Babel lutou pelo exército vermelho após a revolução de 1917, assim como o protagonista das narrativas reunidas em “O Exército de Cavalaria”. Também como ele, Babel era judeu e combateu ao lado de regimentos de cossacos, conhecidos por seu orgulho, por serem excelentes cavaleiros e por seu ancestral anti-semitismo. Babel, além de intelectual, judeu, carregava outro estigma que atraía para si o ódio de seus camaradas de farda: usava óculos. Seu prestígio literário atingiu o auge com a publicação de “O Exército de Cavalaria”, em 1932, mas o escritor cairia em desgraça durante os expurgos stalinistas de 1937 e acabaria preso, morrendo em um campo de prisioneiros em 1941, provavelmente fuzilado.
A biografia do escritor registra os fatos acima. Seus contos narram as experiências de um soldado durante a campanha russa na Polônia. Em “A Morte de Dolguchov”, um dos grandes contos do autor, é descrita a revolta de um comandante cossaco contra outro, incapaz de pôr fim ao sofrimento de um camarada que agoniza. Em “O Peru”, o narrador tem que usar de violência contra uma velha camponesa para adquirir o respeito dos comandados que o desprezam. No belíssimo “Gedali”, Babel narra a experiência de um soldado judeu, perdido entre os dogmas da Internacional Comunista e os apelos ancestrais de sua religião. Até que ponto é possível separar esses relatos ficcionais das reminiscências do escritor? Ou antes: Por que fazê-lo?
Nos contos de Babel, as cenas de violência descritas com a crueza de um balé mórbido, os dramas da indiferença diante do sofrimento e da desgraça, narrados “com uma poesia raramente vista em textos em prosa”, e as raras fugas à objetividade crua, que brotam com a intensidade de confissões, coroam-se com imagens que o crítico Lionel Trilling chama de “epifanias”. O dicionário Aurélio define epifania como: “manifestação ou percepção da natureza ou do significado essencial de uma coisa”. Assim, o escritor parece mergulhar em suas memórias para extrair delas um feixe de revelações, coroando os acontecimentos com uma luminosa compreensão sobre as vidas de seres sujeitos aos extremos da dor. Nesse sentido, ocioso distinguir o quanto de ficção e de fatos reais compõem os contos de “O Exército de Cavalaria”, textos mergulhados na força de sua própria verdade.
BABEL, Isaac. O Exército de Cavalaria. São Paulo: Cosac Naify, 2006, 259 p.
2 de setembro de 2021
Poemas e Haicais: Claudia & Elenir & Inês & Vera
As azaleias da nossa casa,
Quando florescem, são generosas,
Abrem todas de uma vez.
São vaidosas.
Me obrigam a contemplá-las,
Mas isso me dá prazer.
Vão embora devagarinho
Para que possamos nos despedir.
Já alegraram nossos olhos,
Enfeitando nosso jardim ...
Agora se recolhem,
Colorindo nosso chão.
(Vera)
Em flor
Hoje no meu caminho cheio de distâncias
Deparei -me com um ipê florido
Atingida pela beleza
De repente,
Era seiva que fluía nas copas
Minha alma encheu-se de perfume
Algo em mim desabrochou.
Hoje, toda rosa
Estou toda em flor
O pálido se foi
Num calor muito bonito
Chegou a primavera em mim.
Inês Drummond.
(Membro da Academia Niteroiense de Letras)
(Do livro : Dentro das palavras.)
(Que será tema do Debate de Confraternização de Fim de Ano no CLIc)
À beira da estrada,
ipês roxos e amarelos,
o caminho enfeitam.