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21 de outubro de 2018
Fim de Partida: Samuel Beckett
(Voz de narrador) Um gentleman (faz cara de inglês, remoa a sua) reparou na última hora que precisava de calças de riscas para as festas do fim do ano. Correu ao seu alfaiate que lhe tomou as medidas.
(Voz de alfaiate) “Isso basta. Volte em quatro dias e estará pronta.”
Tudo bem. Quatro dias depois.
(Voz de alfaiate) “Sorry, sir, volte em uma semana, cortei errado os fundilhos.”
Tudo bem, essas coisas acontecem, fundilhos bem cortados são difíceis de acertar. Uma semana depois.
(Voz de alfaiate) “Sinto muitíssimo, senhor, volte em dez dias, me enganei no cós.”
Tudo bem, que se há de fazer, o cós é essencial. Dez dias depois.
(Voz de alfaiate) “Minhas mais sinceras desculpas. Volte em quinze dias, fiz uma bagunça na braguilha.”
Tudo bem, uma braguilha em ordem é estratégica.
(Pausa. Voz de narrador) Bom, pra encurtar o caso, as quaresmeiras já floriam e ele estraga as casas dos botões.
(Expressão, depois voz do cliente) “Goddam, sir, não é possível, é um escândalo, um absurdo, não há Cristo que aguente! Em seis dias, ouviu bem, seis dias, nem mais nem menos, só seis dias, Deus fez o mundo. Sim senhor, o mundo, entendeu, o MUNDO! E o senhor não consegue acabar umas reles calças em três meses!”
(Voz de alfaiate, escandalizado) “Mas Milord, Milord, olhe... (gesto de desprezo, com repugnância) ... o mundo... (pausa) ...e olhe... (gesto carinhoso, com orgulho) … minhas CALÇAS!”
(Fim de Partida, Samuel Beckett - 2002, pp.61-62)
20 de outubro de 2018
20 de Outubro: Dia do Poeta
(Adriana, Cláudia, Cristiana, dília, Elenir, Eloisa, Fernando, Gavri, Ilnéa, Inês, Leo, Luzia, Maria Solange, Mariney, Niza, Neide, novaes/, Rita, Sonia, Vera, etc.)
Poeta é alguém que sente sem tocar,
que enxerga sem ver,
que ouve sem escutar,
que se faz presente, mesmo estando ausente,
que brilha qual uma estrela,
porque, igual a ela, tem sua própria luz..."
Yvone de Carvalho
Tiro de misericórdia: Flávio Ricardo Vassoler
Os homens não buscam apenas alguém diante de quem se inclinar; é preciso haver alguém a quem culpar. (Parábola do bode expiatório - Sermão da Estepe - O Evangelho segundo Talião)
Luiz Flávio Gomes
Nietzsche disse que a maturidade, no adulto, significa reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar. Rubem Alves explica o significado dessa frase de Nietzsche (em Lauro Henriques Jr., Palavras de poder: 209): “Essa frase é magnífica! Maturidade é exatamente isso: é você não ser acriançado, é você se envolver de corpo e alma no que faz, é ter a seriedade da criança ao brincar. E o que acontece quando um adulto tem a mesma seriedade de uma criança ao brincar? Ele se torna criança. A atitude de uma criança – que também pode ser a atitude de um adulto – é uma atitude brincante, ela se encanta, se espanta com a vida. A criança vive em estado de encantamento. A nossa capacidade de brincar precisa ser reaprendida. Em vez de sair por aí como adultos “trabalhantes” – ou seja, pessoas ranzinzas, chatas, impacientes -, precisamos recuperar o estado brincante de ser, recuperar a nossa capacidade de rir, de nos maravilhar com a vida. É isso o que faz de você uma pessoa madura, sábia”. Avante!
Que fazer?
16 de outubro de 2018
O Pau-Brasil e a Borduna
Por Wagner Medeiros Junior
No
período entre a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, em abril de 1500,
até a da expedição de Martim Afonso de Souza, ao final de janeiro de 1531,
Portugal não demonstrou interesse em colonizar o Brasil. A primeira expedição
exploradora, de 1501, sob o comando de Gaspar de Lemos (na companhia do
mercador italiano Américo Vespúcio), não encontrara outra fonte de riquezas que
não o pau-brasil. Daí que o rei D. Manuel I (1469-1521) tenha achado mais
relevante explorar a nova rota das especiarias, mesmo a navegação sendo mais
distante e mais perigosa pelo Cabo da Boa Esperança.
Então, a
exploração do pau-brasil foi arrendada pela Coroa Portuguesa a um consórcio de
comerciantes liderado por Fernão de Noronha, no momento em que a notícia da
descoberta do Novo Continente já se espalhara por toda Europa, despertando a
curiosidade e a cobiça de todos. Não demorou, portanto, para que entre 1503 e
1504 a França viesse a explorar o pau-brasil na costa brasileira. Tanto a França
como a Inglaterra e os Países Baixos não aceitavam a divisão do Novo Mundo
entre Portugal e Espanha, da forma como dispusera o Papa Alexandre VI
(1431-1503) ao firmar o Tratado de Tordesilhas.
A
exploração do pau-brasil pelos portugueses e franceses, e esporadicamente também
pelos espanhóis, obteve a ajuda direta do índio. O principal atrativo para a
aproximação foram as quinquilharias europeias, que de imediato despertavam
neles verdadeiros fascínios. Depois foram
introduzidos objetos de ferro, como o machado, a tesoura, a faca e o anzol, que
lhes reduzia acentuadamente o trabalho, principalmente na abertura de novas
lavouras.
O
pau-brasil extraído pelos franceses do litoral brasileiro era bastante
lucrativo, uma vez que usado como corante pelas indústrias de tecido da
Normandia. Com o excedente, os franceses faziam forte concorrência aos
portugueses no mercado europeu.
Contudo,
a principal aliança para fazer frente às necessidades de mão-de-obra e ao
enfrentamento de tribos hostis se dava pela “oferta matrimonial”, como explica
o sociólogo Jorge Caldeira, em seu livro “História da Riqueza do Brasil”,
quando diz que “a aceitação de um estrangeiro se fazia, ... , por um ato muito
simples: o casamento de aliança com uma filha do chefe. E esse ato, num grupo
em que, pelos costumes, os homens vinham de fora e as mulheres eram educadas
para receber em casa os homens de fora, era bem mais simples de ser arranjado
quando envolvia indivíduos de plagas remotas”.
Com este
ato firmava-se um pacto entre os povos, que determinava uma forte relação de
amizade que deveria estender-se aos tempos de guerra. E é justamente nas
guerras em que eram capturados os inimigos que seriam subjugados como escravos
ou submetidos à antropofagia, pela coragem demonstrada na lide. Em seus
banquetes rituais de antropofagia os indígenas acreditavam que ingerindo a
carne dos prisioneiros de guerra incorporavam toda coragem e força espiritual
do vencido. Era justamente esse ritual o que mais temia e apavorava o europeu.
O
ritual da antropofagia era uma prática comum utilizada pelos principais grupos
tribais do Brasil, tanto no litoral como no interior. Deve-se ponderar que a
organização social das tribos não se dissociava das guerras, haja vista que a
própria estratificação social baseava-se fundamentalmente na capacidade de
perseguir e matar o maior número de inimigos. Quanto mais valente o guerreiro
mais consolidado ficava seu valor diante da tribo. Não por acaso, cabia ao
guerreiro que capturava o prisioneiro o derradeiro forte golpe de borduna.
Conforme
relatam inúmeros cronistas da época, não foram poucos os viajantes que em suas
viagens em busca do pau-brasil acabaram por sucumbir nos rituais da
antropofagia. Todavia, as circunstâncias sempre foram determinantes, haja vista
que o índio tanto podia manifestar os mais profundos gestos de admiração e
amizade, como também hostilidade. Tudo dependia da maneira como tratados.
13 de outubro de 2018
Esperança & Porto Seguro: Riva Silveira
Esperança
Tantos desencontros
Tantos enganos
Tantos confrontos
Tanto sofrimento
Que a gente se esquece
Que vai surgir um momento
De paz na alma
De sentimento que acalma
Como do céu estrelado
Caindo no ar
Tão de repente
E a gente nem sente
Surge uma Estrela Cadente
Que nos faz acreditar
Que maravilhas também há
E que eu também posso encontrar.
Tantos desencontros
Tantos enganos
Tantos confrontos
Tanto sofrimento
Que a gente se esquece
Que vai surgir um momento
De paz na alma
De sentimento que acalma
Como do céu estrelado
Caindo no ar
Tão de repente
E a gente nem sente
Surge uma Estrela Cadente
Que nos faz acreditar
Que maravilhas também há
E que eu também posso encontrar.
Fonte |
Porto Seguro
Finalmente
Encontrei um lugar Pro meu barco ancorar
Depois de muitas ondas
Em alto mar.
Estava cansado de enfrentar
Sozinho navegando
Me perdi sonhando
Fui parar no oceano
Sem terra para repousar.
Na certeza que no caminho
O bem ia me alcançar
Fiz loucuras
Me lancei sem pensar
Abracei sem frescuras
Mirando o horizonte
Muito longe
Fui em frente
Sem pra dentro olhar.
Quando tão de repente
Vi tudo afundar
Sem saber como me salvar.
Mas não perdendo a esperança
Reencontrei o meu pensar.
Sabia que podia de novo recomeçar
O leme do barco comandar
E um porto seguro pro meu coração ancorar.
Em Junho de 2015, no CLIc-Rio - O jogo da amarelinha: Julio Cortázar
"Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar"
Foto: Rose T |
Enfim leremos "O jogo da amarelinha" de Julio Cortázar, mas será no CLIc-Rio.
Amarelinha
Vejo sulcos na calçada...
Eles me fazem lembrar
a amarelinha da infância,
a casquinha de banana
caminhando à minha frente
e eu feito um saci branquinho
saltando em uma perna só.
Equilibrista, então era,
cheia de graça a pular,
e a gurizada gritando:
"Cuidado que vai pisar!"
Trago sulcos na minha alma...
Estes não pude evitar!
Pisei em todas as linhas
que encontrei ao caminhar.
Já não mais tinha equilíbrio
para delas me afastar,
e nem havia guris
gritando pra me alertar!
Beijos.
Elenir
12 de outubro de 2018
12 do Outubro: Dia da Criança
"Cuide da criança! Nela, se encontram as raízes do adulto."
Maria Montessori
Fonte |
Nós, adultos, somos os guias que as fazem descobrir tudo de que são capazes. Cada criança tem seus tempos e suas próprias necessidades, trata-se apenas de ser respeitoso e intuitivo para que o desenvolvimento dela seja harmonioso e acima de tudo feliz.
8 de outubro de 2018
Livro: Um chapéu para viagem, de Zélia Gattai
Olá queridos!
Reproduzo o post do meu blog Mar de Variedade.
Reproduzo o post do meu blog Mar de Variedade.
Terminei com certo atraso o livro de setembro do Clube de Leitura Icaraí.
Sempre tive muita vontade de ler algo da Zélia, por ser fã do seu marido Jorge Amado. E agora me tornei fã dela também.
Sinopse do site Saraiva: " Em 'Um Chapéu para Viagem', Zélia Gattai conta um pouco mais sobre sua vida, tendo como pontos de referência dois chapéus que possuiu: o primeiro chapéu marcou sua mudança de São Paulo para a antiga Capital Federal; o segundo, a ida para a Europa dos exilados. O final da Segunda Guerra Mundial, a queda da ditadura de Vargas, a anistia aos presos políticos, a redemocratização do país formam o cenário destes relatos da consagrada escritora, Imortal da Academia Brasileira de Letras."
A Zélia se consagrou como grande memorialista.
Esse livro é um livro de memórias, onde ela conta desde quando conhecia o Jorge Amado de longe, e era grande admiradora dele, lia seus livros, até muito tempo depois, com a vida de casados.
Certo dia, acabou indo trabalhar com ele. Jorge passou a admirá-la também e, em pouco tempo, a pediu em casamento, o que ela aceitou, claro.
Não acho que Zélia vivia à margem de Jorge, pelo contrário, ele dava desafios a ela ( para incentivá-la a crescer), que Zélia não se julgava capaz, como entrevistar uma jornalista importante, da qual ficou amiga. A Zélia teve oportunidade de morar fora do país e aproveitou para fazer vários cursos (investiu nela). Ela pôde conhecer grandes escritores, dos quais era fã, e ficar amiga, por intermédio de Jorge. Acho que houve uma boa parceria entre eles.
Fiquei encantada com a força da Zélia. Ela permeava entre a cozinha, com os belos jantares, e os grandes negócios, como conseguir achar apartamento em Copacabana e conquistar o habite-se, cuidar do sítio, até enfrentar a ditadura, além de ter sabedoria para lidar com Lalu, serenidade para ajudar Jorge com os problemas políticos ( foi para a maternidade com sua ajudante sem avisar a Jorge para não atrapalhá-lo). Que mulher fantástica!
É um livro gostoso de se ler, onde podemos conhecer um pouco da intimidade do casal, dos pais de Jorge, principalmente Lalu, a mãe, que era uma "figura", muito engraçada, e que adotou Zélia como filha, pois as duas se deram muito bem.
Temos também um pouco da visão da ditadura pelo olhar de quem passou por isso. O Jorge teve que morar fora, exilado por alguns anos.
Outro ponto interessante é a descrição de alguns lugares do Rio de Janeiro, que eram pontos de encontro de escritores e personalidades de nossa História.
Além disso, a Zélia dá indicações de bons livros.
Enfim, um excelente livro!
Recomendo!
5 de outubro de 2018
Ele voltou no Clube de Leitura Jovem - O Apanhador no Campo de Centeio: J. D. Salinger
26/06/2014
Quinta feira
18:00h
Livraria Icaraí
- Holden Caulfield fica imaginando uma porção de garotinhos brincando num campo de centeio que tem um precipício e só ele por perto pra tomar conta e não deixar as crianças caírem. Assim como Holden, tem alguma maluquice parecida que você gostaria de fazer?
- A turma jovem está gostando de escolher livros em que o protagonista sofre um breakdown nervoso. A exemplo de "as vantagens de ser invisível", o protagonista acaba sendo internado numa clínica de assistência psicológica. No livro anterior, o trauma de Charlie parece ter sido um abuso sexual por parte da própria tia e no caso de Holden, em o apanhador no campo de centeio, o trauma pode ter vindo da morte prematura de seu irmão Allie com apenas 11 anos de idade.
- Se a garota pede pra você parar, como podemos saber se ela quer mesmo que a gente pare ou se ela está com medo das consequências e que, no fundo, o que ela quer é apenas que fique claro que a responsabilidade do que acontecer é toda nossa?
- O eixo da história de Holden se forma através dos personagens Allie, Phoebe e as crianças do campo de centeio. Ele não pôde fazer nada por Allie, mas ele não abandonará Phoebe e não quer que nenhum mal aconteça às crianças que brincam no campo de centeio.
O Apanhador no Campo de Centeio (releitura), de Jerome David Salinger. A reunião ocorreu no dia 06/08/2010.
Que leitura boa o Apanhador no Campo de Centeio! É de um humor juvenil revigorante. Como são belos os jovens revoltados! Uma viagem no tempo... Ah, se eu tivesse lido este livro aos 16 anos! Em vez de “le concierge”, hoje eu seria “le syndic” do Clube de Leitura!
Na Sexta do Apanhador houve ótimas surpresas, mostrando como o vigor desse livro o mantém atual até os dias de hoje. Ou seja, a obra de Salinger é, definitivamente, um clássico. Mas o vocabulário da tradução, como bem observou o exegeta do clube, é datado. Foi feito um apanhado de todas as gírias usadas no livro e se nota claramente a influência das gírias nacionais na tradução da obra.
O livro mostra que o fenômeno do bullying não é um fenômeno recente nas escolas. Ora, pois, se não for bullying o que a gang de Phil Stabile faz com James Castle no capítulo 22, levando-o a se lançar da janela para a morte. Eu também testemunhei bullying desde que entrei no jardim de infância, lá nos idos de 60! Tinha sempre um valentão na sala que tentava impor sua “lei”.
Meu Deus, que temeridade esses jovens feito folha seca ao vento! Ainda bem que eles têm em si uma força e uma convicção originais que nos escapam a compreensão e que contamos que lhes sejam útil em última instância. Que façam bom uso dela, é o que podemos torcer, e orientar quando possível. A gente tem que confiar um pouco na educação que lhes demos.
“What's the size of your mind?” Esqueci de perguntar aos presente como isso foi traduzido, mas é uma questão interessante que é levantado n'O Apanhador ... Cada um dá a sua resposta, mas só de pensar sobre o assunto nos ajuda a nos conhecer melhor.
Pelo visto na reunião, teve gente que sabia para onde vão os patos (selvagens) no inverno. Isso para não falar nas referências metonímicas.
Mr. Antolini, era gay, pedófilo ou agiu paternalmente com Hölden? Seus conselhos me pareceram bons. A gente nunca sabe com certeza o que vai acontecer até que aconteça! Esse tema taboo foi tratado com reserva nas discussões.
Até breve, folks.
3 de outubro de 2018
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