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16 de julho de 2019

Patacada: Adriana Mendonça


Quando o sol riscou de leste a oeste o céu prata do sertão, a gata Patacada desceu da latada. Passava a maioria das tardes enganchada na forquilha do mourão, na esperança de que, sem ver o sol, esse se esquecesse dela, inútil. Aterrissou com as quatro patas no chão, arqueou os braços e empurrou o traseiro para trás, num esgar virou a cabeça e colocou toda a língua cor de rosa para fora. Com força e elasticidade, a gata buscava atingir seu maior comprimento. Na tentativa de espantar o tédio e o calor, foi direto beber água. Mas naquela hora sua latinha era só uma pocinha onde fermentavam mosquitos. Por sorte o menino do meio se antecipou e trocou a sopinha morna de insetos por água fresca da moringa, e Patacada, sem mostras de entusiasmo, serviu-se à vontade. Esse era o primeiro artigo do contrato diário estabelecido entre a gata e o menino. Dispostos ao cumprimento, ele entrou para dentro de casa e a gata saiu para além da capoeira.


...


(continua no livro "Clube de Leitura Icaraí: Modo de Fazer")






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