"A vida é um fio,
a memória é seu novelo.
Enrolo--no novelo da memória--
o vivido e o sonhado.
Se desenrolo o novelo da memória,
não sei se tudo foi real
ou não passou de fantasia."
( Bartolomeu Campos de Queirós)
O vermelho, cor tão quente,
é atribuído à paixâo.
E ao ódio, bem diferente,
se ele habita o coração.
(Elenir)
* * *
Vermelho é paixão
e sangue também. Com ódio
fatiava o tomate.
Fatias que expunham
o ódio só tragado pelo
intruso ao amor.
Pontuando o céu,
uma virgula existia.
Leve passarinho.
(Elenir)
"A mãe partiu cedo — manhã seca e fria de maio — sem levar o amor que diziam eu ter por ela. Daí, veio me sobrar amor e sem ter a quem amar. Nas manhãs de maio o ar é frio e seco, assim como retruca o coração nos abandonos. Ela viajou indignada, por não ser consultada. Evadiu-se, sem suplicar um socorro. Nem murmurou um “com licença” — eu confirmo — para adentrar em outra vida, como nos era recomendado. Já não cantava, sobrevivia isenta, respirando o medo pelo desconhecido. A mão da morte soterrou até sua sombra. Foi um adeus inteiro, definitivo, rigoroso, sem escutar nosso pesar. Eu pronunciava, seguidamente, a palavra amor, amor, sem ter a presença amada."
O tempo ancora no corpo da gente!
Toda memória é fantasiosa!
O que não foi esquecido merece ser repensado...
Sempre que a gente escuta o silêncio, a poesia se manifesta!
...A madrasta retalhava um tomate em fatias, assim finas capaz de envenenar a todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insistia em justificar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro como se degolasse um de nós.
"Eu suspeitava que o embaraço das letras amarrava segredos
que só o coração decifra. Mas uma certeza me vigiava: ler
era meu único sonho viável."
(Lilian)
VERMELHO DE PAIXÃO
O tomate diário
em finas fatias
indicava o quanto de fome
ali havia.
O vermelho alcoólatra,
cor da vergonha,
instigava a criança:
vai, garoto, sonha!
A família, a madrasta,
a faca e a fome
que diminui sua presença
a cada filho que some.
Há mais tomate no prato
a cada um que se vai,
mas o amor pela mãe, este
nunca se esvai.
(novaes/)
DOR
Ficou no peito um tipo de amargor
Talvez pelo grito contido da dor
A cada dia denunciado no olhar
Não sei, mas chorei sem lágrimas
Acho que o tempo frio e seco
Impediu que desprendessem
Há sentimentos, mas calados
De um amor assim isolado
Que mudo vive sufocado
Surgindo em prosa e verso
Solitário, contundente, cruel
Ensurdecedor
Sonia Salim
Janeiro... Vermelho Amargo,
seja lá isso o que for!
Quem sabe um sorriso largo
adoce o beijo... e a cor?
seja lá isso o que for!
Quem sabe um sorriso largo
adoce o beijo... e a cor?
(I)
O que há dentro de mim,
e dentro de mim esqueço,
sou eu, vestindo em carmim,
esse eu... que desconheço.
e dentro de mim esqueço,
sou eu, vestindo em carmim,
esse eu... que desconheço.
( I )
Nascer é entrar em um trem,
sem se saber o destino.
Sem bilhete de viagem
e uma só baldeação.
(Elenir)
No vermelho do tomate
a degola diária do desamor
no cheiro desinfetante do ar
a omissão do sentimento
que eu não conhecia
fantasia de esperança
teimando em vestir-me
daquilo que me era maior
e não cabia.
Rubro espelho
onde não me reconhecia
memórias de aromas e amoras
furtadas em alheia menina dos olhos
quero ser o livro
quero ter o sonho
quero tecer rendas
em bifes espancados
e cheirar alecrim
sentir a comida leve
como os passos do gato.
a degola diária do desamor
no cheiro desinfetante do ar
a omissão do sentimento
que eu não conhecia
fantasia de esperança
teimando em vestir-me
daquilo que me era maior
e não cabia.
Rubro espelho
onde não me reconhecia
memórias de aromas e amoras
furtadas em alheia menina dos olhos
quero ser o livro
quero ter o sonho
quero tecer rendas
em bifes espancados
e cheirar alecrim
sentir a comida leve
como os passos do gato.
"Oh, anda, desanda a roda
deixa a roda desandar...
Evandro, vermelho é moda
com ele vamos trovar...
deixa a roda desandar...
Evandro, vermelho é moda
com ele vamos trovar...
(Ilnéa)
Vermelho amargo, acridoce...
eu soube dentro de mim,
que o que era doce… acabou-se:
nunca mais amei assim.
eu soube dentro de mim,
que o que era doce… acabou-se:
nunca mais amei assim.
(I, 19/11/2012)
Preencher um dia é demasiado penoso se não me ocupo das mentiras.
Ser gente Vermelho Amargo,
ser gente triste ou contente,
é gente que "joga largo",
tantinho, assim... diferente!
(I... "gorinha")
Lindas imagens, através delas lembrei-me do filme "A lista de Schindler". Tem uma cena toda em PB em que aparece uma menininha de vermelho. Com Bartolomeu, o tomate para mim tornou-se inesquecível.
ResponderExcluirFico maravilhada com as postagens que vcs colocam sobre os livros..um primor!
ResponderExcluirvermelho...lembrei-me do filme da Trilogia do Kieslowski(cineasta polones),o filme A Fraternidade é vermelha.
Ceci
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPoetas do Clube, maravilhei-me com todos.Vermelhos dentro de mim, tomates a se recompor.
ResponderExcluirBeijos.
Elô
Eu terminei a leitura e também achei maravilhoso o livro.
ResponderExcluirAté arrisquei uns rabiscos poéticos acerca da dor.
Abraços!
Sonia