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29 de agosto de 2017

Luís Antônio Pimentel




Caros amigos,

Hoje (7/5/2015) saiu no Segundo Caderno dO Globo, página 7, uma breve história de Luís Antonio PIMENTEL no obituário. Está bastante clara e é imperdível para todos os brasileiros conhecerem melhor um dos maiores escritores brasileiros, além da pessoa maravilhosa que sempre soube ser, aproximando as pessoas, contribuindo para a literatura, a fotografia, o jornalismo, sempre sorridente, com uma memória prodigiosa. Sempre que eu queria saber algo relativo à história fluminense, ou à política brasileira, era PIMENTEL que eu procurava. 

Ainda estou muito triste. Ele será inesquecível. 

Minha proposta de EDUCAÇÃO LITERÁRIA como metáfora Social tem sido provocar novas reflexões sobre os paradigmas impostos nos estudos da literatura brasileira. O processo de educar através da literatura é a representação simbólica dos espaços sociais de cidadania, mas nem sempre procuramos ampliar os limites, estimular a leitura da verdadeira literatura brasileira nas escolas, nas universidades. Incluir a obra de PIMENTEL nas escolas e universidades será uma perfeita contribuição para estimular novas leituras sobre a verdadeira literatura brasileira.  Além de historiador, fotógrafo e jornalista, foi certamente um dos escritores brasileiros mais conhecidos no exterior. 

A agenda Poética da Associação Niteroiense de Escritores de 1994 foi dedicada a Luis Antonio PIMENTEL. 

O Poesia Sempre de dezembro de 2002, ano 10 número 17, foi dedicado à 'grande poesia e cultura do Japão' e a Luis Antonio PIMENTEL, que aborda não apenas a formação do 'haicai', mas, sobretudo, certos matizes do pensamento oriental, após longa residência no Japão. 

O artigo tem por título 'A Poesia e suas demandas'. 

'Quem ainda não viu, ora em ouro, ora em prata, ora em madrepérola, uma porção de garatujas exóticas mas decorativas, arabescando o negror invejável e luzidio de uma caixa de charão? Não há quem ainda não as tenha visto e mesmo admirado. Viram nas casa de charão, nos vasos enramados de cerejeiras e ameixeiras floridas, nas lanternas de Gifu ou Odawara, nos leques cromados, nas ventarolas delicadas de bambu e papel, ou nas finíssimas xícaras de chá que o Japão exporta para o mundo inteiro. É sobre esses arabescos  retorcidos, que são quase sempre maravilhosos poemas de rara delicadeza e emoção,  quer pelo seu tamanho reduzido, quer pela sua essência, que escrevemos hoje. Esses arabescos são poemas de 31 sílabas, que formam as famosas poesias 'waka' (pronuncia-se 'uaca') e haicai - mostra magnífica do espírito delicado dos nipões, que parecem ter nascido para a arte, para a literatura. 

Embora os japoneses tenham herdado muito da cultura chinesa, através do budismo que ali chegou, atravessando a península da Coreia, no ano 600 da nossa era, quando adotaram a escrita chinesa, os caracteres chineses que chamam de 'Kan-ji' (letra ou ideograma da dinastia Kan) a waka e o haicai são poesias genuinamente japonesas. São poesias sóbrias, delicada e complexas como o povo japonês. 

A poesia espelha bem a alma de um povo. Uma nação cujos súditos se dedicam ao 'Bon-Kei', confecção de paisagens em miniatura, ao Bon-Sai', árvores anãs de 10 centímetros de altura ou pouco mais, florescendo e frutificando, ou escrevem poemas em grão de arroz, não poderia ter como poesia nacional, como não tem, uma composição agigantada. De uma síntese absoluta, essas poesias, que vêm desde o ano 840 a.C., serviriam para, com ótima documentação, rotular os 'marinetti' que andam por aí falando em modernismo, como ridículos, ridiculíssimos e bolorentos passadistas. A 'waga', que é poesia típica, vem desde a Era dos Deuses, quando o Japão era todo um céu. Foi, sem dúvida alguma, Susano-wo-no-Mikoto, irmão da Deusa Sol, fundadora do Império do Sol Nascente, quem compôs a primeira 'waka', que não se perdeu em sua trajetória através dos séculos. 

(....)

Há mais de 1.100 anos foi publicada a primeira obra clássica de 'waka', intitulada Manyo-shu. primorosa coletânea de poesias feitas por poetas de todas as castas, desde imperadores até soldados e agricultores, que ainda em nossos dias é editada, lida e comentada pelo seu grande valor como documento histórico. Os poetas máximos dessa época foram Hitomaro, Akahito, Okura, Yakamochi e outros. 

Mais tarde, na era do imperador Daigo (ano 922 da nossa era) foi compilada uma outra coletânea, ou melhor, uma antologia não menos notável, intitulada 'Koshin-shu' (coletânea de antigas e novas 'wakas'), de onde selecionaram os 100 poemas célebres que estão ornamentando as cartas usadas para jogar durante os dias festivos do ano-novo no Japão. Essa nova obra veio enriquecer sobremaneira a poesia japonesa, lançando nomes com Tsurayuki, Narahira e a poetisa Komachi, que marcou época no Império das Cerejeiras em Flor, ficando famosa não somente pelo seu talento invejável, pela sua inspiração divina, mas, principalmente por sua incomparável beleza. Seu nome ainda hoje no Japão é empregado como sinônimo de mulher bela e talentosa. 

Daí por diante, várias séires de 'waka' surgiram, mas já sob o controle do governo, sem contudo, lograr o sucesso marcante, definitivo, absoluto das publicações anteriores. 

(...)

No século XIII, com o evoluir da 'waka', surgiu um novo tipo de poesia que se chamou 'renka' (poema em sequência). Tornou-se hábito dois poetas ou mais comporem, alternativamente, em 14 sílabas métricas um poema do tipo tams peomas 

Tenho sua obra completa e a cada releitura mais me interesso, com as revelações construídas em sua própria vida, viajando e desenvolvendo sempre o diálogo com as pessoas, com a cultura, com a sociedade, com a vida. Foi o introdutor do Haicai no Brasil, em sua versão original: jornalista, morou no Japão e foi radialista da Rádio Meus alunos também ficam emocionados quando descobrem a profundidade dos textos, de forma simples e profunda. E quando descobrem o verdadeiro 'haicai', querem sempre saber mais e escrever os seus. 

'O que o haicai?
É o cintilar das estrelas
na gota de orvalho.'


Para apresentar seu trabalho em congressos no exterior, fiz a versão em inglês: 

'What is a haicu?
It's the dazzling of stars
on a drop of dew.


Ele também foi a capa da Agenda Cultural de Niterói, em março de 2012. Guardo dentro da carteira um cartão com seu retrato, e meu marcador de páginas é com fotos de PIMENTEL, sob a faixa 'Escritores ao Ar Livro'.

Na parede sobre o piano, tenho um pequeno quadro pendurado, dizendo

'Cyana Leahy-Dios.
Musical e sem fermata,
Teu nome é um acorde'.


A saudade será eterna. Seu exemplo de vida deve ser modelo para todos nós. Ainda estou muito triste e jamais esquecerei tudo o que fizemos juntos, com a presença maravilhosa da ZULEICA! Amigo maravilhoso, insubstituível, inesquecível. Ainda bem que conseguiu receber todas as homenagens prestadas, merecidamente!

Abraço carinhoso,




Cyana Leahy
Professora Universidade Federal Fuminense
PhD em Educação Literária (London University)
Autora de 18 livros de poesia, prosa literária, pesquisa acadêmica publicados pelas editoras Autêntica, Casa da Palavra, CL Edições, EdUFF, Franco, Martins Fontes, Papirus, 7 Letras
Contos Tradicionais Irlandeses (Franco Editora) recebeu o prêmio 'Ireland Literary Exhange Award, Dublin, 2005 por divulgar a literatura irlandesa no exterior. Todos os Sentidos: contos eróticos de mulheres (em co-autoria, foi premiado como 'melhor livro de contos de 2004', pela União Brasileira de Escritores. 
Tradutora de obras literárias e acadêmicas, publicadas pelas editoras Casa da Palavra, Bertrand, Fraiha, Martins Fontes



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