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5 de maio de 2017

Infante D. Henrique – O navegador

Por Wagner Medeiros Junior

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Parte I

O Infante D. Henrique nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no dia 4 de março de 1394. Quinto Filho do rei D. João I, primogênito da dinastia de Avis, e da rainha D. Felipa de Lencastre, nobre da casa régia da Inglaterra, o Infante não chegou a ser um navegador, senão o promotor das incursões portuguesas pelo Atlântico, na expectativa de encontrar outros povos, expandir o cristianismo e estabelecer novas rotas comerciais. Até então o sul do oceano Atlântico era conhecido como “Mar Tenebroso”, sendo muito temido pelos navegantes, que acreditavam existir em suas águas terríveis monstros marinhos, que o tornava impenetrável.

Conforme consenso da historiografia moderna, a expansão ultramarina portuguesa iniciou-se com a decisão de D. João I invadir a cidade de Ceuta, que monopolizava o comércio no norte da África e mantinha o controle do Estreito de Gibraltar em poder dos mouros. D. João I viu nessa oportunidade uma maneira de aumentar o prestígio de Portugal junto à Igreja e elevar seus filhos homens – D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique – à condição de cavaleiros da Coroa. Coube, então, ao Infante D. Henrique, aos 21 anos, a missão de organizar e comandar as frotas da região do Porto, que participariam da expedição a Ceuta.

Em agosto de 1415, sob a benção do Papa Gregório XII, a cidade de Ceuta caiu sob o domínio cristão português, sem grande reação dos “infiéis” muçulmanos. Seguiram-se depois os saques em busca de metais preciosos, joias e outras riquezas, em meio ao caos aberto entre mercadorias de todos os tipos espalhadas entre cadáveres de homens, mulheres e crianças. O comércio florescente daquela praça, que até então ostentava milhares de lojas com produtos das mais variadas procedências - da África, da Índia (pela concepção européia compreendia todo continente asiático), da Pérsia e mesmo de Veneza – foi aniquilado.

Isto fez com que as caravanas de comerciantes mudassem as suas rotas e que o abastecimento da cidade e das tropas portuguesas que permaneceram em terra, sob o comando do escudeiro Pedro de Menezes – cerca de 2.700 homens - ficasse comprometido, pela falta alimentos, principalmente de cereais. A manutenção de Ceuta, desta forma, tornou-se extremamente onerosa para as Cortes portuguesas. Mesmo assim, o Infante D. Henrique insistiu por fincar-se no norte da África, mesmo contra a vontade das Cortes.

Em 1418, quando os mouros investem sobre Ceuta na tentativa de resgatar o território conquistado são novamente vencidos. O Infante D. Henrique havia regressado para participar da defesa, mas sua chegada aconteceu após a vitória consumada. Mesmo assim, é nomeado por seu pai, D. João I, senhor defensor de Ceuta, ficando a partir daí responsável pela manutenção da cidade. Como recompensa D. João ainda o eleva a Grão-Mestre da Ordem de Cristo, detentora de imensa riqueza, e governador perpétuo do Algarves, do Lagos e de Sagres.

Durante esse período, o Infante Dom Henrique permanece por quase um ano na cidade, onde toma conhecimento das rotas das caravanas de comerciantes e do ouro que chegavam a Ceuta. Ao retornar a Portugal, em 1419, o Infante decide-se por abandonar a Corte e instalar-se na vila de Lagos, cerca de cinco léguas de Sagres, onde passa a dedicar-se ao estudo da Matemática, da Cosmologia e à leitura de escritores antigos. É de lá que o Infante lançou as suas primeiras expedições marítimas em busca do desconhecido.

A fortuna recebida da Ordem de Cristo, herdeira da Ordem dos Templários, junto ao fervor religioso e a abnegação por encontrar e converter outros povos ao Cristianismo seriam determinantes para que D. Henrique reunisse na Vila de Lagos grandes mestres da ciência e exímios escudeiros deveras habilitados a desvendar os segredos das navegações. Daí que surge a hipotética Escola de Sagres, cuja existência não há provas científicas, mas que se fundamenta em um núcleo filosófico que reuniu grandes sábios, sem os quais não seriam possíveis as grandes descobertas e a expansão marítima portuguesa.


Parte II


A conquista de Ceuta, ao norte da África, foi para a nobreza portuguesa uma grande decepção, uma vez que a expectativa de obtenção de riquezas, pelo menos em médio prazo, não se viabilizou. Pelo contrário, a própria manutenção das tropas era muito onerosa, pois dependia de quase tudo de Portugal, haja vista que o estado permanente de guerra com os muçulmanos dificultava a preparação da terra para o cultivo agrícola e a criação de animais. Além disso, as rotas comerciais até então existentes foram desviadas para outros locais pelos árabes.

O alto custo para a permanência naquela praça tornou-se um problema a mais para o pequeno reino de Portugal, já bastante carente de recursos materiais e humanos, o que levou importantes setores da nobreza a pressionar a Coroa pelo abandono de Ceuta. O infante D. Henrique, no entanto, tornou-se não só um aguerrido defensor em manter o território conquistado, como também em estender o domínio português para outros pontos da África. Era de Ceuta que sua armada partia para a prática do corso pelo Estreito de Gibraltar.

Então, em 1433, as Cortes reunidas em Évora acabaram por aprovar, mesmo contra a vontade, uma incursão ao Tânger, ao norte do atual Marrocos. Tal iniciativa veio a se firmar como um grande fracasso, pois além de uma fragorosa derrota das tropas comandadas pelo Infante D. Henrique para os mouros, seu irmão mais novo, o Infante D. Fernando, foi capturado como refém. Como resgate os muçulmanos exigiram a retirada dos portugueses de Ceuta, o que não aconteceu. E D. Fernando acabou por falecer na prisão, em 1443, tornando-se mártir para o reino português.

Por ocasião do desastre de Tânger os intrépidos navegadores de D. Henrique já haviam desbravado uma imensa área da costa da África. Mas, o terrível cabo Bojador, até então uma grande obstáculo à navegação, só seria ultrapassado por Gil Eanes em 1434. Nenhum dos navegantes encontrou outro reino cristão, nem o almejado território de Prestes João, como há tempo era esperado pelo Infante. Porém, em 1441, a primeira centena de escravos negros era transportada da África para Portugal, iniciando o que viria a ser uma das mais lucrativas atividades da época.

Conforme Bernardo Vasconcelos e Souza, em História de Portugal, o corso de há muito praticado e as atividades comerciais, incluindo o tráfico de escravos, passaram a andar associados, numa conjugação que diversificava as possibilidades de obter rendimentos altamente compensatórios. Não é por outra razão que o príncipe regente D. Pedro, irmão do Infante D. Henrique, concedeu-lhe, em 1443, o monopólio de todo o comércio de escravos ao sul do cabo Bojador.

Outro benefício incorporado à imensa fortuna do Infante D. Henrique foi a mercê de Senhor das Ilhas do Atlântico, recebida do rei D. Duarte, também seu irmão, após a morte de D. João I. As ilhas de Porto Santo e Madeira foram concedidas por ele aos navegantes João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo (os primeiros a conquistá-las), na forma de Capitanias Hereditárias. Tais ilhas produziam resíduos para tinturaria, madeira, vinho e cereais, abastecendo a metrópole e Ceuta.

Mais tarde o próprio Infante introduziu na ilha da Madeira, em caráter experimental, a cana de açúcar, cuja plantio se estenderia ao arquipélago dos Açores, onde também viriam a ser montados engenhos para a produção do açúcar para exportação. Só as ilhas de Cabo Verde seriam alcançadas a expensas da Coroa portuguesa, em 1456, sem a interveniência do Infante D. Henrique.

Senhor de Covinhã, duque de Viseu e Grão-Mestre Perpétuo da Ordem de Cristo - herdeira da Ordem dos Templários – fiel defensor das cruzadas medievais, o Infante D. Henrique ainda detinha, entre outras mercês, o monopólio da pesca nos mares do Algarve, nas ilhas do Atlântico e na costa da África, quando morreu, em 13 de novembro de 1460,em Sagres, solteiro e supostamente casto.

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