SONETO À LUA
Vinícius de Morais
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
Rio, 1938
Resposta de Mª Teresa ao poetinha
Eu declamei essa poesia hoje.
No final eu disse: Só não gostei de: Vagabunda, patética e indefesa.
Instinto feminino, ou seria feminista?
Não importa...
Não era a mulher que anda na rua...
Não era uma mulher branca ou pequenina...
E quem era essa adorável Vagabunda, Patética e Indefesa?
Quem?
Quem poeta?
A quem meus lábios defenderam ou ultrajaram?
-A Lua, mulher!
-A Lua!
-A tão famosa e tão brilhante Lua!
A Lua que, tão de todos, se tornou Vagabunda...
Que de tão fiel, tão leal e de uma só cara, se tornou Patética...
De tão desejada, tão cobiçada e tão falada,
Se torna Indefesa diante das imagens
Que se traduzem em letras
Que formam as palavras.
Que alimentam as mentes vagantes
De Filósofos,
De Amantes
e de Poetas...
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