Por Wagner Medeiros Junior
A decisão de permanecer no Brasil e declarar
a independência de Portugal deu a D. Pedro I uma imensa popularidade.
Entretanto, não demorou muito para que o prestígio alcançado fosse transformado
em um sentimento de forte repúdio. A mudança no humor dos brasileiros começou a
acentuar-se logo após a instalação da Assembléia Geral Constituinte, em 3 de
maio de l823, com o embate de temas que intencionavam limitar o poder do
Imperador, tal como conceder maior autonomia às províncias. Então, no mês de
novembro, D. Pedro decide-se por dissolver, pela força, o parlamento
Constituinte.
A primeira Constituição brasileira, de 1824,
acabou por ser elaborada por um seleto grupo ligado ao governo, sem a
participação do parlamento. Isto elevou ainda mais a animosidade nativista
contra a centralização do poder e os privilégios sociais e econômicos dos
portugueses. Depois emergiram a relação escandalosa do Imperador com a sua concubina,
Domitila de Castro; a repressão violenta aos ativistas da Confederação do
Equador; os desgastes com a Guerra da Cisplatina e a morte da Imperatriz Dona
Leopoldina, após um largo período de sofrimento e humilhação e junto à corte.
Em 1830, a imprensa liberal e nacionalista já
não dava mais tréguas a D. Pedro I. Cada ato do governo era invariavelmente
questionado; cada ação dita como autoritária, vista com grande desconfiança.
Ninguém perdoava o envolvimento do Imperador com os portugueses e nas questões
políticas de Portugal. Neste quadro, no mês de novembro é assassinado em São
Paulo o jornalista liberal Líbero Badaró, ferrenho defensor do Federalismo. A
suspeição de crime de mando recaiu sobre os partidários de D. Pedro, sobrando-lhe
sobre os ombros uma sombra da imputação da culpa.
O jornalista e historiador potiguar Tobias do
Rego Monteiro (1866-1952), em sua obra “História do Império: O Primeiro
Reinado”, resume o estágio a que chegou, em março de 1831, a animosidade dos
brasileiros contra D. Pedro, ao descrever que por onde ele passava
“gritavam-lhe vivas acintosos, vociferavam-lhe pragas, permitiam-se
interpelá-lo, desconhecê-lo. Sua reputação desfazia-se, seu prestígio
desmascarava-se, sua influência aniquilava-se, sua autoridade diluía-se”. O
povo perdia-lhe o respeito!
No mês de fevereiro desse ano, D. Pedro
viajou para Minas Gerais buscando reencontrar o apoio popular que alcançara em
viagem anterior, depois da Independência. Entretanto, em cada lugar que passava
era hostilizado pelo povo. Quando chegou a Ouro Preto não foi diferente, pois
encontrou a população estampando faixas negras alusivas ao luto pela morte de
Badaró e sinos repicando em protestos. Tais acontecimentos corroboraram para
que o Imperador encurtasse a viagem e começasse a pensar na renúncia.
Então, os portugueses absolutistas ao lado
dos conservadores brasileiros, resolvem organizar uma grande recepção a D.
Pedro I em alusão ao seu retorno ao Rio de Janeiro. Por todos os logradouros
onde passaria o cortejo imperial as casas foram enfeitadas. Todavia, a
animosidade era tão grande que os opositores brasileiros, na noite de 13 de
março, reagiram quebrando as luminárias e apedrejando as casas dos portugueses.
Garrafas também partiam de ambos os lados! O conflito se estendeu por três
dias, com focos espalhados nas principais ruas do Rio de Janeiro.
Depois dessa agitação a sorte de D. Pedro
parecia selada. Mesmo assim, ele ainda tentou se reaproximar dos liberais
brasileiros realizando mudanças em seu ministério, mas pela própria
nacionalidade portuguesa e radicalismo de seus desafetos, todos os esforços
foram em vão. Os agravos persistiram até o dia da abdicação ao trono, em 7 de
abril de 1831. Com altivez, o Imperador D. Pedro I pagou o preço da
impetuosidade de sua juventude, em um momento em que o Brasil buscava firmar
sua nova identidade, soberana, como país independente.
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Excelente ensaio Wagner! Toda dificuldade política encontrada por Dom Pedro I foi muito bem retratada nessas linhas. Nossa história e cultura estão sempre presentes em seus textos. Trabalhos como o seu são imprescindíveis.
ResponderExcluirObrigado, Caro Renan Dias.Os textos são feitos para pessoas que gostam de história, tal como você.
ExcluirHistória com sabor de romance: parabéns, Wagner! Teus textos estão cada dia melhor!
ResponderExcluirObrigado, Caro Evandro. Que bom que estão melhorando! Cada dia temos que melhorar mais um pouco, não é mesmo?
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