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23 de agosto de 2016

A menina que roubava livros - Markus Zusak


"Se o Clube de Leitura Icaraí leu...



... vamos filmá-lo!"



Sucesso garantido!



Caro Leitor, qual a cor de tua alma? Teus olhos revelam algo sobre o que brilha em teu interior? Que livro roubarias do inferno se este um dia te atormentasse? Qual a música que ouves em teus sonhos? Que segredo guardas no teu porão? Que respostas são essas que não ousas confessar a ti mesmo? Venha, vamos tomar de assalto o pomar da existência antes que as intempéries nos expulsem ou nos recolham para longe do que nos é mais querido.

Em fevereiro o Clube de leitura Icaraí lê “A Menina que Roubava Livros”, do australiano Markus Frank Zusak. O livro conta a estória de Liesel Meminger, menina que é entregue pela mãe aos cuidados de uma família adotiva que habita a periferia de Munique, Alemanha, durante a segunda Guerra Mundial. Filho de mãe e pai nascidos na Alemanha e Austria, na época da Segunda Guerra, o jovem escritor conta que cresceu ouvindo histórias a respeito da Alemanha Nazista e sobre judeus marchando pela pequena cidade alemã de sua mãe. Em entrevista, Zusak conta que partes do livro são inspiradas em fatos reais, como fragmentos da história de vida de sua mãe alemã, que cresceu sob os cuidados de uma família adotiva e nunca chegou a conhecer o próprio pai. E, assim como Liesel, que desenvolveu adoração por livros, Zusak brinca contando já ter “furtado” alguns livros de biblioteca na época de estudante.


"Livro comprado ou roubado
ajuda a gente a viver.
Pois estando ao nosso lado,
o mal nos leva a esquecer."

Após uma seqüência de livros que tratam de Guerras devastadoras, como a Guerra Civil em Moçambique, abordada por Mia Couto, em “O Outro Pé da Sereia”; e a Guerra da Coréia, por Philip Roth, em "Indignação"; é razoável temer outro laboratório, que nos leve a nova viagem a um período tão duro quando o da Segunda Guerra Mundial (mesmo após um agradável intervalo de “Pequenos Amores”). Mas a leitura de “A Menina que Roubava Livros” surpreende. O romance não é contado nem a partir da visão do Holocausto (“A Vida é Bela”, de Roberto Benigni – comédia dramática), nem das entranhas do Nazismo (“A Queda! As Últimas Horas de Hitler”, Oliver Hirschbiegel – drama). Em seu livro, Zusak tenta mostrar outro lado da Alemanha Nazista, a história de alemães comuns (“Alemanha, Mãe Pálida”, de Helma Sanders-Brahms), não dominados pelo ‘carisma’ e poder de seu líder e seus discursos. A versão dos que buscam “O Coração Informado” (cf. Bruno Bettelheim).

...o livro do mês faz referências aos holocaustos mas a ênfase, na minha maneira de ver, é no poder da leitura para enfrentar qualquer mal que seja. Os alemães eram queimadores de livros e uma menina alemã analfabeta, então, os salvava. O livro era sua esperança de vida contra os idealistas sem compaixão de uma sociedade “perfeita”. A Menina queria roubar a vida dos escombros e horrores do nazismo. A vida pode estar desmoronando e quando tudo parece perdido, um livro pode nos mostrar a saída. O livro mostra a tragédia nazista pela óptica de alemães. Particularmente, nunca tinha visto nada parecido.

Embora faça sucesso entre os jovens leitores, A “Menina que Roubava Livros” é leitura para adultos. Parte da mensagem é sobre o poder das palavras e da propaganda, o que nos remete a um questionamento já feito em leitura anterior: até onde, poderes dirigentes de um Estado de massa social, econômico e político são capazes de manipular a mente de um indivíduo, de uma sociedade? É fato que o ambiente pode influir, e de fato influi, em aspectos importantes do comportamento e da personalidade do homem. Mas, fugindo ao que diz o ditado: “o que os olhos não vêem o coração não sente”, é necessário “o coração informado” para o desenvolvimento e exercício de senso crítico. E se o homem nem sempre pode ser decisivo no que diz respeito ao que ele é e será dentro da sociedade, independente desta, que ao menos este seja capaz de usufruir de sua liberdade de pensamento e resguardar algum tipo de identidade e dignidade, junto a manutenção de valores importantes para si.







"Guarda chuva, guarda sol,
guarda tudo, até lembrança;
guarda sonhos de arrebol
desde que era criança."






Através de Liesel, conhecemos crianças e adultos que desafiavam as regras e ajudavam uns aos outros, 'vivenciamos' o amor entre estranhos, o céu queimar após um ataque aéreo, a emoção e coragem de resgatar um livro prestes a ser queimado em sessão pública por oficiais nazistas, a dor de famílias separadas. Engana-se, contudo, quem pensa que a leitura é mórbida e assustadora. Uma particularidade, torna o livro de Zusak muito interessante: é a Morte quem narra a história. Com um diferencial, que traz luz à leitura: nesta estória, é a morte que tem medo de nós. Zusak brinca com nossa tendência a ver “guerra e morte juntos, como se fossem melhores amigas”.

"I think war is more like the boss at death's shoulder, always wanting more work to be done. Death's as confused about everything as us." ("Eu acho que a guerra é mais como o patrão no ombro da morte, sempre querendo mais trabalho a ser feito. A morte é tão confusa sobre tudo como nós.") (Markus Zusak, The Sydney Morning Herald )

E assim, a história da Alemanha Nazista é contada através dos olhos de um(a) simpático(a) e bem humorado(a) ceifador(a), assombrado(a) pelas ações dos seres humanos. Nós, que ambiguamente podemos ser tão belos e tão feios.

A reunião ocorreu em 04/02/2011. Nela, reinou a diversidade de idades, opiniões, conhecimentos, vontades etc. Tivemos participantes de 12 a mais anos. Foi muito bom ver o entusiasmo dos jovens com suas leituras. Muito bom tê-los por perto. Dentre as curiosidades, fomos alertados para a inadequação do verbo ‘roubar’, utilizado na tradução do original em inglês para o português. Rigorosamente esperaríamos o uso do verbo ‘furtar’, visto nunca haver violência nos atos de Liesel. Assim, teríamos ‘A Ladra de Livros’ ou ‘A Menina que Furtava Livros’, mas talvez não parecesse belo aos ouvidos... Belo, na verdade, foi comprovar que opiniões contraditórias podem ser complementares. Tivemos exaltação da beleza poética do livro, seguida por crítica ferrenha a sua linguagem e conteúdo literário sem que uma anulasse o valor da outra, mas ao contrário se somassem, ampliando nossa visão para o que lemos. Notamos que nossa leitura é limitada, uma vez que podemos não ter o rigor técnico/literário, a sensibilidade poética, ou a devida atenção para a linguagem e semântica que felizmente muitos de nossos amigos carregam em suas bagagens, mas, ao ouvi-los, aprendemos. O clube é prova de que nossa maior riqueza pode estar na diferença, na não imposição de regras preconceituosas, na liberdade de escolhas. Viva a diversidade!





7 comentários:

  1. Li este livro no final de 2009. Acho interessantes as ironias que o autor compôs, ao colocar a morte como narrador e personagem deste romance.
    Geralmente a morte é um acontecimento, que leva à perda; sempre nos afata quando perdemos alguém querido.

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  2. Olá, Beatriz. Talvez para abrandar a realidade triste e amedrontadora da Guerra. Nela há perdas, crueldades, desolação por todos os lados. Provocada por nós homens. Talvez o autor quisesse abordar o tema através da morte, cuja personalidade parece mais sensível e que tem medo dos homens.

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  3. Bravo! Captastes a essência do livro!

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  4. Belo texto! Gostei muito do livro e da história. Gostei do estilo da narrativa, com pitadas de ironia na medida certa. Talvez apenas o excesso de figuras de linguagem e estilo no início do livro tenha sido desnecessário, mas no geral, o livro é adorável e estimulante. Um livro para ler e, indicar e tomar parte das nossas prateleiras de livros "roubados" e comprados.

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  5. ................................

    Se a Morte conta uma história...
    Você vai parar pra ouvir
    e guardá-la na memória
    pra quando tiver que ir.(13/12/2010)

    (A Menina Que Roubava Livros)

    1. Sou somente o que me espanta
    sou tango, valsa e bolero
    sou nó na minha garganta
    sou só o que ser eu quero.

    2. Vez por outra testemunho
    Aquilo que quero ver
    Fecho os olhos, cerro o punho
    vendo o silêncio morrer.

    3. Vi tres vezes a menina
    Sentada nos tonozelos
    Olhando o além que fascina
    Brilhando luz nos cabelos.

    4. Obstinados, calados
    Continuaram o três
    Olhos abertos fechados
    Procuram o que não ves.

    5. Postei-me meio à direita
    Com uma alminha em meus braços
    Solene , muda e perfeita
    No silêncio de seus traços.

    6. Queimado em alguns lugares
    Havia migalhas pretas
    Pimenta perfuma os ares
    Enquanto faço caretas.

    7. Desta vez foi muito tarde
    Foi tudo tarde demais
    Saí sem fazer alarde
    e nem olhei para trás.

    8. E assim, por um momento
    Apesar de tanta cor
    O mundo ficou cinzento
    O céu, a terra, onde for.
    ******
    Sabe de cór, de memória
    e sabe, desde pequena,
    que a morte conta uma historia
    mas tem que valer a pena.
    *****



    *
    A vida é como se fosse
    não mais do que um texto antigo
    amargo, ou acre e doce,
    que cada um traz consigo. NP 05/05/2010

    A vida não deixa nada
    devora-nos como fera
    vai ceifando pela estrada
    enquanto a Morte... só espera. NP

    A vida traz alegrias,
    esperanças de quimera,
    faz-nos viver fantasias
    enquanto a Morte só espera. NP

    Que bom é sentir saudade,
    do que passou... e foi embora
    mas que é só felicidade.
    se é hoje o que foi outrora.



    Por que na realidade
    flutua um barco vazio
    do qual ninguém tem saudade
    na outra margem do rio?

    *************************


    Soneto
    Eu hoje acordei na terra fria
    Num mundo sem ninguém, só e calado,
    Deserto, sem ternura, isolado
    À espera do que ainda não sabia.

    Eu hoje me senti tão desolado
    Privado de ternura e fantasia
    Que parecia ser tão só a alegoria
    Do verso que deixei inacabado

    Eu hoje sou poeta sem poesia
    Sem alma, sem amor e sem leveza
    Que sabe ser melhor ficar calado.

    Eu hoje, agora e sempre só queria
    Olhar dentro de mim e ter certeza
    De que hoje eu acordei no mundo errado.

    Ilnéa R.País de Miranda

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  6. Gostei do livro.
    Mas lamento o triste final da protagonista.
    Ao terminar de ler esse livro eu percebi que a humanidade não impõem de jeito nenhum,limites a seus desejos,nem que pra isso eles tenham que matar muitas pessoas,inclusive as inocentes.
    Mas como a minha mãe disse''Em uma guerra morrem mais inocentes do que culpadados".
    E Hitler consquistou o titulo de mais demente.
    Enfim,eu só não queria que todo mundo morresse,muito menos as crianças que nem chegaram perto de conhecer a vida,o mundo...

    Contudo,esse livro é emocionante,eu chorei no final do livro,e eu nunca senti mais raiva do Hitler do que quando eu li esse livro,e eu tambem planejo ler o Diario de Anne Frank,e espero que ess araiva não aumente!!

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  7. E não é que parece que resolveram filmar os livros que lemos no Clube de Leitura Icaraí!

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