Ana Maria Machado no CLIc em 1 de março para debater "Infâmia".
Transmissão pela Web - ao vivo
Imperdível!
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Resumo da história de José: José foi vendido pelos próprios
irmãos como escravo a mercadores e posteriormente adquirido por
Potifar, comandante da guarda do faraó egípcio. José logo ganhou a
confiança de Potifar, passando a ser responsável pelos negócios da
casa deste. Foi então que José passou a sofrer o assédio da esposa
do comandante, que convidou-o a deitar-se com ela. José recusa
veementemente trair seu senhor pois este lhe confiara tudo em sua
casa, menos a própria esposa. Continuou a mulher em suas tentativas
até que, certo dia, estando sozinhos, ela mais uma vez insistiu.
José fugiu, mas ela segurou-lhe a capa, que ficou em sua mão. A
mulher então, gritando, fez vir a si os homens da casa e,
apresentando a capa de José como prova, acusou-o de tentar levá-la
para a cama. Quando Potifar chegou em sua casa, a esposa anônima
repetiu-lhe a história engendrada e este encolerizou-se. José foi
então enviado para a prisão.
Trecho da entrevista de Ana Maria Machado ao Conexão Roberto D'Ávila, exibido em 19 junho de 2011 pela TV Brasil (extraído do Especial de Ano Novo - Conexão Roberto D'Ávila - 2012):
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Opiniões dos Leitores:
Cês estão gostando de nossa leitura atual? Da Ana Maria Machado eu só havia lido Alice e Ulisses, e isso já faz tanto tempo que não lembro chongas. Estou apreciando Infâmia. O texto flui muito bem, com bastante naturalidade, não dá vontade de parar.
Um detalhe sobre a edição que eu tenho: apesar de as páginas serem meio escuras, não me parecem feitas com papel reciclado (a Rita havia dito que eram, acho), pois não vi nenhuma referência a isso nos dados sobre a publicação. Será se a colega se equivocou ao nos dar a informação?
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Rose T
O que eu tenho a dizer é que estou amando Infâmia!!! Quase no final!!!!
Rita:
Sobre Infâmia, eu achei que era papel reciclado sim, não só pela cor como também pela textura, e como no dia da votação eu já tinha comprado mas ainda não tinha lido, na ânsia de defender o voto falei até do cheiro, lembra? Foi mais no estilo brincadeira, mas se colar é bom, sabe como é?
Agora, falando sério, o papel que importa do livro é a grande reflexão que ele nos leva a fazer sobre nossas atitudes, a crença absurda numa imprensa comprada e descompromissada com a verdade, as consequências de uma frase leviana para toda a vida de quem foi caluniado. Fico feliz que tenha defendido a proposta original da Cintia, uma excelente leitura.
... Nunca tinha parado para pensar nas respectivas primeiras-damas, mas talvez povoasse meu imaginário a ideia de uma vida boa, sem preocupações financeiras, um pouco de glamour. Ana Maria nos traz o outro lado, o casamento de aparências, o rigor do comportamento esperado, as regras que se aplicam ao marido e à mulher, bem diferentes, a opressão sofrida pela filha do embaixador, também ela casada com um embaixador, a depressão subsequente, a manipulação do marido, sua crueldade, a covardia de ambos, o medo da mulher, a falta de visão de alternativas, a opção derradeira. Muita sujeira por baixo do tapete.
Transpondo para outras realidades, para as que conhecemos, inclusive a nossa, o que encontramos de comum? Esse é o cerne da questão que me interessa. O livro ratifica minha opinião de que não devemos compactuar com nada que nos traga infelicidade, não esconder os problemas, discuti-los, tentar uma solução que não maltrate o coração, mas se não der, partir para outra, sem a preocupação paralisante do que os outros vão pensar. Isso é um atraso que pode ser fatal e o tempo, sabemos, não para.
Oi Rita
Essa possibilidade de ter uma ótica não imaginada é que nos engrandece e flexibiliza, que nos minimiza a chance de cometer infâmias. Clarice Lispector viveu esta situação como esposa de diplomata e nos deixou registrado sua angústia e desamparo.
Quanto à sujeira por baixo do tapete, a sensação é de uma terrível impotência. O verso que traduz o sentimento é do Quintana: "há tanta coisa para denunciar, mas a quem?". Acredito que o Papa diria a mesma coisa...
Durante a leitura do livro, fiquei lembrando também da estratégia do Amós Oz: perceber a normalidade em meio à anormalidade, escrever sobre pessoas comuns e seu cotidiano em situações limites para que a poesia e a arte prevaleçam, para não dar vitória à opressão. Como é difícil adotar este olhar que busca a luz...
Já acabei a leitura e estou preparando o bastão da fala...
Considerei o livro um compartilhar, uma denúncia, uma crítica feroz, um reconhecimento do quanto estamos imersos em sistemas desumanos, que incapacitam o restabelecimento da vida e a dignidade perdidas.
O considerei um convite ao olhar mais sistêmico, ao questionamento socrático. Manoel de Barros como antídoto: “só dez por cento é mentira, o resto é invenção”; “as coisas jogadas fora tem grande importância, como um homem jogado fora...”; “é preciso desver o mundo, é preciso transver o mundo.”
As duas primeiras infâmias trazidas na narrativa foram desconstruídas com perguntas simples que tornavam óbvia a farsa e estancaram a fértil criatividade para o mal.
Uma das expressões que mais me impactaram foi a da “êxtase da santidade”: aquele estado que parece autorizar cada um a julgar o outro de forma hipócrita.
Agradeço à Cinthia pela indicação, perseverança e atitude ao convidar a autora. Seu rico caminho literário transparece na escrita do livro, por exemplo, ao citar a lucidez da cegueira na literatura... como foi bom reler uma frase do Saramago: “A única coisa mais terrível que a cegueira é ser a única pessoa que consegue ver.” (p. 156).
Gostei da ênfase à importância do contexto: “A descontextualização é uma forma de desonestidade intelectual.” (p. 65). Fez-me lembrar de um trecho do “O lobo da estepe" de Hermann Hesse (1995, Vozes, p. 26):
“Um homem da Idade Média condenaria totalmente o nosso estilo de vida atual como algo muito mais cruel, terrível e bárbaro. Cada época, cada cultura, cada costume e tradição têm o seu próprio estilo, têm sua delicadeza e sua severidade, suas belezas e crueldades, aceitam certos sofrimentos como naturais, sofrem pacientemente suas desgraças.”
Ainda desejo destacar outros pontos preciosos encontrados no livro, o que farei em breve.
Boa tarde a todos!
Cris
Livro importantíssimo. Autora magnífica. Reunião imperdível!
ResponderExcluirFoi muito interessante participar da reunião do Clube de Leitura via Twitter. Cada um expressando o que encontrou no livro "Infâmia", de Ana Maria Machado, e que serviu de base para novas reflexões. Opiniões divergentes surgiram, o que só enriqueceu o grupo. Parabéns!
ResponderExcluirSonia Salim
Que ótimo, Sonia. Isso faz o clube crescer e alcançar novos patamares. Depois da transmissão pela web, penso quando pudermos também ter a interação instantânea com quem está assistindo, de modo que participe ativamente, com colocações, perguntas, depoimentos. Se sonhar é o primeiro passo para realizar, já estamos na caminhada.
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