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21 de fevereiro de 2019

Nas malhas do devaneio: Dília Gouveia (Autor CLIc)




Dília Gouveia instiga leitor a desbravar sua própria existencia através da palavra de Fernando Pessoa (Por: Roberto Santos 24/09/2013)


“(...) Por isso ele concebia a vida como um sonho do qual ele nâo queria despertar. (...) E nessa atitude devaneante forjou uma nova realidade: a da vida como ficção”. (Pág. 57)

A autora é filósofa, ensaísta, professora de Literatura e excepcional declamadora. Apaixonada por textos pessoanos nos brinda com um livro que é encantador do princípio ao fim. Tanto que, com aguçado olhar, Cristiana Seixas registra na orelha do volume: “ (...) esta  obra instiga o leitor a desembrulhar sua própria existência”. E tudo começa com mágico encontro entre um eu da autora e um convidado, à roda de um caldeirão de cobre sobre estrutura de pedra, com fogo contínuo, ao lado de taças de vinho.

O convidado, que a um só tempo é semelhante e diferente do Fernando, começa a contar sobre momentos em que esteve ao lado de Fernando Pessoa e dos seus principais heterônimos, isto é, das figuras que ele criou literariamente , com destaque para Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares. O interessante , e bastante inteligente, é como Dília Gouveia anima a conversa, com oportunas citações filosóficas e interlocuções construídas em torno de versos e ditos de múltiplos personagens pessoanos.

A tese central do livro é mostrar como Fernando Pessoa nos reinventou como seres humanos. Em tal instância deve ter sido influenciado por Shakespeare, que, segundo Harold Bloom, criou nossas ideias “sobre o que constitui o humano autêntico”. O evoluir da narrativa de Dília lembra,  um pouco, o livro Fernando Pessoa Textualizado, de Paul Human, “ a tentar entrar na linha de pensamento” desse constelado poeta português, considerado por tantos críticos como um gênio que abriga outros gênios. É livro para ler em ritmo de fogo crepitante, com estalidos de reflexões e de análises.


O dia em que Fernando Pessoa nos reinventou
Seu livro, Dília, é simplesmente FANTÁSTICO. Gostaria de ter o dom de me expressar com belas palavras para externar todo o meu encanto, o meu arrebatador interesse e uma absurda admiração que experimentei ao ler sua preciosa obra literária. Você, minha amiga, soube de maneira magistral nos apresentar Fernando Pessoa e seus principais heterônimos (os “amigos de FP”) da maneira mais criativa que uma mente privilegiada pode ter: sob a forma de “Diálogo em volta da fogueira”.
Você e seu convidado nos contaram coisas muito legais do “Fernando”, do “Alberto Caeiro”, do Álvaro de Campos, do Ricardo Reis e do Bernardo Soares. Ao ler seu livro, Dília, fica a certeza que FP, muito mais que um maravilhoso escritor e poeta, foi um profundo pensador/filósofo que deixou como legado a importância do sonho que nos impulsiona na vida, a pluralidade de eus,  as armadilhas a que nos expomos quando nos entregamos ao amor, entre tantas outras coisas ligadas à nossa existência. Acredito que a mente do FP era tão fecunda de ideias  que precisava daqueles “amigos” que o ajudassem a disseminar todas as questões que lhe transbordavam da mente e do coração.
Quando soube que você, Dília,  ia lançar um livro sobre FP, imaginava algo como  transcrições de poesias ou textos dele com os respectivos comentários e interpretações. Nunca imaginei que você fugiria de todas as formas previsíveis, para falar tão-somente da essência desse ser prodigioso que foi FP, como também de seus heterônimos, que passaram a ser pessoas REAIS, nesse “seu devaneio”.  Afinal, ficção e realidade andam tão próximas que por vezes se misturam e se confundem.


Ao iniciar a leitura, percebi que se tratava de uma entrevista que iria acontecer entre a narradora/autora vivendo na mesma época que os protagonistas do livro e  seu convidado, ambos admiradores dos mesmos. O gravador foi ligado no início da entrevista que depois se transformou em diálogo, já que ambos complementavam as informações sobre os protagonistas. Ao final do livro, surpreendentemente, esse mesmo gravador não reproduziu som algum do longo diálogo que se passara. Afinal, tudo se resumia a um devaneio da narradora/autora. E por isso mesmo, ela presenteia o leitor com um texto muito lindo. Ei-lo: 
“Levantei-me. Quis escutar o que acabava de gravar. Nenhum som, nenhuma voz.  Apenas silêncio ... E é, precisamente entre silêncios, que se costuram as palavras que dançam significados à existência, que colorem afetos por entre os desertos, que respiram sentido sobre a aridez ...  Afinal, o que ficou gravado e agora vos comunico, foi tão só o que ficou gravado em mim. Fragmentos de um devaneio onde dificilmente se pode discernir a realidade do sonho, a vida da ficção. É então que tudo acontece.”
Meu livro está todo marcado à lápis com trechos que eu considerei belíssimos e dignos de reflexões. Não vou poder transcrevê-los todos pois seria quase transcrever todas as páginas do livro. Para não me estender mais, vou apenas destacar um trecho nas palavras do “convidado”.  A propósito, esse “convidado” era onipresente na vida desses protagonistas.  Diz o “convidado” que ele e FP nasceram no mesmo dia, no mesmo mês,  no mesmo ano. Ah, como essa autora nos provoca a pensar sobre essas coincidências. Ei-lo:
“ O Fernando era uma dessas pessoas que sabiam transformar as emoções, os sentimentos, em pensamentos. Muitas vezes ele me dizia: ‘O que em mim sente está pensando’. ”
Dília, parabéns pelo seu “NAS MALHAS DO DEVANEIO”. Eu me apaixonei.  Agora entendo quando você diz que foi reinventada por FP. Você provou esse fato ao escrever esse INCRÍVEL livro.    
            Saiba que ganhastes uma fã, viu?
            Beijos ......................... Angela Ellias.

11 comentários:

  1. Autora e comentarista, ambas merecedoras de nossos aplausos.
    Espero em breve poder constatar as palavras de Angela, A QUEM DOU TOTAL CRÉDITO. A Dília, faz muito, entreguei minha confiança e admiração.
    Saudades das duas.
    Abraços!

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  2. Angela, querida!
    Quanta generosidade! Tu que és uma leitora exímia!
    Elô, gratidão pela confiança e admiração. Levarei o livro que pediste no próximo encontro do Clic para que o leias.
    Abraços
    dília

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  3. Dília, querida, passei a tarde lendo "Nas Malhas do Devaneio". Maravilhada, termino-o neste instante. Que belo livro! Que excelente recurso você, com sensibilidade e sabedoria, utilizou para trazer-nos Pessoa e seus heterônimos. Porque tenho vários livros seus e porque sei vários poemas pelos quais me apaixonei, pensei que o conhecesse. Somente após esta leitura, tenho consciência do tão pouco que o conhecia. A Elenir que a iniciou já não é a mesma ao seu término. Devo isso, principalmente, a você que me ajudou a entendê-lo e a aplicar esse entendimento à minha existência. Obrigada! Que venham muitos outros livros!
    Abraços afetuosos.
    Elenir

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    1. Elenir, querida!
      Se não fosse por outra razão, o simples fato de dizeres: "A Elenir que a iniciou já não é a mesma ao seu término", já seria o bastante para eu julgar que um dos objetivos deste ensaio tinha sido cumprido. Assim, me sinto imensamente grata pelas tuas palavras.
      Abraço
      dília

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  4. Poxa, sexta fui na livraria Gutemberg do shopping Boulevard em São Gonçalo e não encontrei seu livro, apesar de constar no sistema.

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  5. Bela a apresentação do livro da Dília Gouveia, NAS MALHAS DO DEVANEIO", pela Angela Ellias. Eu já fiz o pedido do livro para o concierge. Vamos aguardar.
    Parabéns, Dília! Abraços!

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  6. Concordo com a Elô e com a Sonia, uma bela apresentação da Angela Ellias. Impossível não sentir o desejo de ler o livro, principalmente para quem gosta de Fernando Pessoa, o que acredito ser o caso de todos aqui.

    Abraços!

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  7. Dília, que importância podem ter em nossa vida, a filosofia, a literatura e os devaneios? A princípio, me parecem instâncias bem distintas senão antagónicas da experiência humana, se não as enxergarmos à luz da filosofia de Dionísio. Parabéns por saber combiná-los magicamente!

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  8. Evandro, nosso concierge argonauta das coisas instigantes!
    A reflexão que a filosofia provoca, as emoções criadoras que a literatura evoca e os devaneios que a imaginação produz, são almas gémeas que se complementam e promovem os rombos devastadores necessários em nós para que permaneçamos vivos e atentos.
    Muito obrigada por teres avaliado essa combinação como mágica. Isso me comoveu.
    Abraços
    dília

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  9. Depois de encontrar um deus nas pequenas coisas, vou me prender nas malhas do devaneio, delícia!

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