Maria Marlie |
Adorei o
livro: primeiro, as lembranças de uma infância que já vai longe, figuras que se
sobrepuseram ao ler seu livro, trazendo fatos e pessoas de toda uma
infância de amigos que frequentaram sempre o meu cotidiano e traziam em sua
maioria, para a menina tão pequena que eu era, uma certa aura de encantamento.
Seu Davi, um homem sempre vestido em ternos escuros, um chapéu e, pasmem, tinha
um carro! De dentro desse carro, tiraria uma enorme mala, enorme para o meu
tamanho de três anos e cheia de roupas e cheia de roupas lindas. Uma delícia”
Lembro-me de minha mãe, usando um vestido bonito, para quando meu pai chegasse,
à noite, e dissesse diante de seus filhos como a mãe deles estava deslumbrante.
E outros nomes diferentes dos que eu tinha em minha família, como Moisés
Tubenschlach, com quem fui ainda menina comprar a mobília de quarto, que tanto
tempo sonhara em ter. Minha mãe queria pagar um preço – nove -, seu
Tubenschlach dizia outro – dez –, e eu me desesperava, queria a
minha mobília. Propus, então, nove e meio. O negócio foi fechado.
Seu
livro faz-me lembrar de um menino que morava perto de nossa rua e tinha o
hábito de jogar futebol com meninas. Era certo que ele não tinha pressa para
terminar o jogo. A mãe dele, na esquina, gritava: Maurício está ha
hora"! Os meus primos diziam: seu pai chegou,corre. É capaz do seu
Shermann brigar com você. Corre!
Eu me
lembro de outros cabelos ruivos que invejava. Regina e as outras meninas, duas
ou três, que moravam na Visconde de Sepetiba. Lindas! Cabelos ruivos e crespos,
diferentes dos meus quase castanhos e lisos.
Depois,
veio a guerra. Acabou a guerra. Nos cinemas, eram mostrados horrores, os judeus
eram os gringos, mas muito diferentes dos judeus amigos que conhecia.
Tão diferentes dos filmes.
O tempo
passou, cresci e passei a saber outras coisas. Eram judeus sim, os nossos
amigos. Salomão e as irmãs, da família Rubens, os Grabier, os Grand, os dois
nomes um pouco enrolados. Para melhor entendermos, ficaríamos muito tempo
falando dessa gente que tão bem nos é apresentada e, ao crescer, vim a
conhecê-los melhor. Na mocidade, já casada, seu Leon joalheiro, que trazia em
casa fios de pérolas para eu usar. Eu era o que as pessoas chamavam de “mãe das
pérolas”. Pérolas têm vida e morrem se não são usadas. E eu com o Dani fazia
com que elas revivessem. Meu amigo Leon casou e teve duas lindas filhas. Um
dia, partiu para Israel. Perdi de vista os amigos, mas não as suas lembranças.
Toda vez que uso milhas pérolas, lembro-me do amigo por quem tenho um eterno
afeto.
Seria
capaz de contar muitas coisas que me ligam aos “gringos” em minha vida. Mas
vamos aos feitos do seu livro, esse fazer diferente, capítulos curtos, com um
título no final. Nunca tinha visto nada assim. As fases de fixação de uma
família em terra diferente e, por causa disso, difícil. O tempo passou e foram
se fixando. A mãe judia, hoje tão falada, me fez lembrar da minha, a família
que formamos, o trabalho diário. Para isso, não há diferença na luta.
O tempo é
curto, as reminiscências são muitas. Tentei falar da minha leitura na sua
escrita. O comentário (se é que se pode chamar de comentário o que escrevi)
foi feito com o coração. As lembranças desse povo que fazem do ventre materno a
condição dos filhos serem judeus. Isso acho lindo e torna o povo judeu único e
eterno.
Maria Marlie
(o nome é
alemão, mas o nome do meu pai era Salomão, escolha do pai dele, que queria para
o filho o nome de um grande homem)
Daniel Chutorianscy
médico que sofreu AVC e fundou o Grupo AVC-PULANDO A CERCA
médico que sofreu AVC e fundou o Grupo AVC-PULANDO A CERCA
Olá, Daniel! Poderia confirmar o preço do seu livro que será tema do debate de Dezembro de 2015 do Clube de Leitura? E também não se esqueça de levar exemplares para que os Cliceanos possam adquiri-lo antecipadamente.
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