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20 de junho de 2014

A Origem dos Vagalumes - Sobre um Original de Coelho Neto




No princípio tudo era sombra e silêncio. E Deus, naquela altura, lapidava os astros: os diamantes do céu. Lapidava-os, e a poeira luminosa que deles se esparzia ia se espalhando, formando a Via Láctea e as outras nebulosas. Logo que um astro fulgurava, Deus, deixando-o engastado, tomava um pouco de treva e punha-se a bruni-la. E assim, conseguiu fazer todas as estrelas que brilham. O sol é um topázio enorme e a lua uma opala triste.

Lapidando os astros, o Senhor nem podia pensar que parte da poeira micante pudesse descer à Terra.

Tendo de criar os animais e o homem, desceu ao mundo deserto. Caminhando devagar pela sombra, de repente viu fulgir entre as árvores virgens uma pequena chama fugaz. Deteve o andar, e pensativo, ficou acompanhando a viagem aérea e volteante da fagulha de origem desconhecida.

Vendo-a ir e vir e vendo que outras surgiam, o bom Deus, não querendo que o demônio astuto pusesse malefício em sua obra e julgando as chamas erradias criações do Mau Anjo, - porque não se lembrava de as haver criado Ele mesmo - tomou no espaço uma das que passavam e, com seu alto poder, fez com que a centelha falasse.
E entre seus dedos, a centelha falou:

— Senhor, deixai-me livre. Não me julgueis provinda de origem má. Chama, não fui gerada nos braseiros infernais, Eu venho das claras estrelas que fulguram no céu. Quando o Senhor as lapidava, delas saía uma poeira luminosa que se espalhou pelos espaços formando estradas. Porém, alguns grãos pequeninos dessa poeira rutilante vieram dar à Terra, e, porque nelas havia tocado vossa mão, logo se animaram. E, à noite, bem á hora em que as estrelas brilham no céu, a poeira das estrelas vive e brilha na terra! Bem vedes que de Vós venho. Deixai-me ir, Senhor! Deixai-me ir por entre as árvores que cheiram e por cima das águas brancas que murmuram.

E o Senhor, enternecido, abriu os dedos deixando partir o vagalume.

Aí tendes porque não é fixa, como a das estrelas, a luz do vagalume: é que ela esteve, algum tempo, abafada entre os dedos do Senhor Deus Criador, e é por Sua obra e graça, até hoje, que o inseto guarda essa instantânea impressão.

Nota - Esta bela história sobre a origem dos vagalumes, escrita por Coelho Neto, tem um espírito tão parecido com o das lendas populares, que não dá para resistir à vontade de passá-la adiante. Eu a encontrei, alguns muitos anos atrás, num baú perdido no tempo, penso que chamado "Insetos nos folclore", e hoje, dei com ela no meu baú iMac particular. Espero que chegue outros olhos e a outros corações apaixonados como o meu.

Grande abraço,
Ilnéa


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