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27 de fevereiro de 2019

A CHAVE DA CASA - poema de Rita Magnago inspirado na leitura do livro




Saio de dentro dessa vida-piscina
quando a falta de ar já me levava ao desmaio
aí abro a boca em desespero
e bebo toda a atmosfera que há para beber.
Acalmo meu coração
a hora chegou, mas já se foi
e eu ainda estou aqui
essa chance...

Todo começo é o meio
o caminho, a procura
os desencontros do encontro
o eu estar aqui e você não
o você e eu estarmos
e não estarmos
só você ficar.

Dos instantes intensos e eternos
é curiosa a contagem do tempo
sou só eu que estou comigo 24 horas
mas é a você que dou o crédito de perdurar.

Na minha memória
a fotografia se esvai
rachaduras trincam a imagem perfeita
e lapsos cobrem de nuvens as cores do passado.
Eu preencho com a dor
- ela sempre dá conta -
reinvento contornos
reconto a história da vida
construo o presente
que vai me permitir abrir portas
mesmo as das casas que não existem.

Derrubo o silêncio
atravesso as fronteiras
desenterrando raízes
daí sairão meus frutos
acres e doces
daí sairei eu
como quem renasce de si.

10 comentários:

  1. Lindo poema, Rita!!! Eu acho muito interessante esse mover que faz o poeta escrever, produzir através das leituras. você está de parabéns! Que beleza!!!

    Abraços! Sonia Salim

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  2. Querida Rita, como sempre você me encanta, não mais me surpreende, pois espero sempre o belo brotando de você.
    Beijos ternos,
    Vera.

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  3. Seu poema é perfeito!Exprime a angustia da existencia,busca pela chave que poderia nos responder algo que desse sentido à vida...Ceci

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  4. Queridas Sonia, Vera e Ceci, muito obrigada pelo feedback. É tão bom poder partilhar o que sinto com vocês e encontrar leitores sensíveis e abertos a experiência do outro. Beijos.

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  5. Concluí ontem a minha leitura do livro do mês. Estava curioso para terminar e vir aqui ler seu poema. Muito bom, capta essencialmente o livro e transforma em versos a busca da personagem principal, em sua solene viagem de si a si mesma. Gostei especialmente do fim, perfeito!

    "Derrubo o silêncio
    atravesso as fronteiras
    desenterrando raízes
    daí sairão meus frutos
    acres e doces
    daí sairei eu
    como quem renasce de si."

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    Respostas
    1. Fiquei com essa dúvida na leitura do livro do mês: a viagem da protagonista aconteceu de fato ou foi apenas uma viagem de si a si mesma, já que ela estava entrevada em sua própria casa?

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    2. Obrigada, Antonio. Eu também só gosto de ler coisas sobre o livro depois que termino a leitura, para não me deixar influenciar, eu acho. Sobre a pergunta do Evandro em relação à viagem da protagonista, concordo com você. Me parece que a Tatiana quis mesmo deixar margem a ambas as interpretações, cada um pode escolher a que mais preencher seu imaginário. Minha escolha é de que a viagem foi apenas na cabeça dela, o que não é pouco. Até sexta.

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  6. É uma bela pergunta, Evandro. Acho que não é possível definir se a viagem ocorre mesmo, fisicamente, ou se é uma viagem interior, através das memórias da história familiar. O narrador é muito dúbio, às vezes contraditório. Há uma passagem, por exemplo, que põe em cheque a ideia da viagem física: "Essa viagem é uma mentira: nunca saí da minha cama fétida. Meu corpo apodrece a cada dia, as pústulas corroem a minha própria carne e em pouco tempo serei apenas osso [...] Como poderia fazer essa viagem?" (p.151 do livro eletrônico da Livraria Cultura). Pois é, Evandro, isso dá uma bela discussão...

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  7. Eu tenho em relação a esse livro uma sensação de perda. Eu nunca acabo de ler um livro. Quando algo do meu cotidiano me remete as mesmas situações sensitivas da história eu saio em busca do mesmo. Mas...
    eu o emprestei fascinada que estava em compartilhar as emoções da protagonista. Não o vi de volta. Não pude comentá-lo, enfim, dividir as sensações.
    Ei-lo aqui.
    As mesmas dúvidas, as mesmas angústias e até mesmo uma obra de arte, a poesia da Rita.
    Ela recebeu uma chave. Que também abre portas da alma. Em busca das raízes da sua origem e também do seu conformismo sai em busca de respostas. Creio que ela não precisa de respostas pois que, como relata, convive com o seu mal.
    Ela precisa de atitude. Atitude é a libertação. Sangrará por ela.
    Preciso comprar outro livro.
    Saudade do livro.
    É coisa comum na minha vida.
    É possível?
    Xiii! Mais perguntas.
    Eu preciso é pegar a minha bolsa e empreender a minha viagem.

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  8. Desculpe pelo comentário extemporâneo. Obrigada pela publicação. Vi a data, 25/02/2019 e só muito depois, pelos comentários, entendi tratar-se do ano de 2014. :(

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