Quadros que dizem tanto...
A ideia é da cliceana Cristiana Seixas, biblioterapeuta e escritora que sempre nos propõe desafios de fazer parar e pensar. Tendo recebido a imagem do quadro abaixo através do e-mail do CLIc, Cris nos instiga a escrever sobre a pintura da canadense Marianna Gartner, gerar textos a partir da imagem que segue, em forma de prosa, poesia, trova, haicai, o que mais lhe parecer conveniente. Você também pode contribuir enviando outras imagens para que prossigamos a brincadeira.
Então, vamos lá? O que lhe diz esse quadro?
Quadro macabro, quase um pesadelo. Parece que conheço essa menina de algum lugar. Enquanto vivemos inocentemente nesta dimensão existencial, fatalidades diversas estão reservadas para nós. De um lado, aquelas que condicionarão o nosso existir, e do outro, os novos desdobramentos que temos pela frente. Enquanto isso, brincamos fagueiramente alheios à tragédia humana pessoal de cada um. Pior do que ser uma corda entre dois abismo, é ser uma criança inocente e indefesa que se equilibra na corda sustentada por duas caveiras. Espero que não exista algo parecido nos sustentando na corda bamba que é nossa vida. A garota apresenta um aspecto antigo, do século retrasado, eu diria, aparentando uma vida de reclusão e repressão, o que não impede de haver borboletas em torno dela, talvez retratando sua ingenuidade perante o destino sombrio. Borboletas simbolizam os três estágios da vida humana, a vida, a morte e a ressurreição, se neste caso não simbolizar a vaidade humana ou a própria alma da garota que já lhe escapa do corpo. Pode significar que esteja doente, e que o fio da vida esteja já em ameaça iminente de se romper, haja vista as personagens funestas que se avizinham do além. Os tons escuros e enevoados usados causam tristeza, apreensão, receio, mesmo que a menina esteja fazendo um pequeno gesto delicado de saudação, ou de insegurança, numa pose meio sem jeito, como se nos saudasse por compartilhar de seu estranho universo. Belo quadro, porém sinistro. Decididamente, conheço alguém assim.
ResponderExcluirA esperança por um fio
ResponderExcluirEmblemático olhar
cortando o vazio
sugerindo a dor
que a criança desconhece
ao equilibrar entre borboletas
olhando para a vida
que mantém por um fio
a esperança
Sonia Salim
Realmente, muito perturbador o quadro de Marianna Gartner! Excelente ideia da Cristiana que a Rita nos propõe como interpretação de obras de arte. Gosto, particularmente, de uma obra clássica de Velásquez que está no museu do Prado, em Madrid, España: Las Meninas, cuja interpretação pode ser vista e compreendida em
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=08-3Un_fOKk
Parabéns, meninas!
Concordo com Evandro, achei o quadro altamente perturbador, nunca o teria na minha casa, embora ache a reflexão que ele propõe fundamental. Gostei também dos pontos de vista ressaltados pelo anônimo, uma análise interessante e com a qual tenho vários pontos em comum. Já o poema de Sonia me surpreendeu deveras, eu jamais veria esperança no quadro, que bom que Sonia me trouxe esse olhar. Para mim, o quadro e assim:
ResponderExcluirA menina é triste
apesar da suposta inocência
ela sabe que a vida está por um fio
um tênue fio delgado que a separa da morte.
Será que seus pais se foram?
Tudo pode acontecer
hoje e amanhã
e aí mudamos de lado
caímos
o fio não mais se sustenta
como foi com a borboleta
só que ao contrário.
Se pudesse, eu daria um sorriso à menina.
A consciência do efêmero
não precisa ser pesada
deve antes servir de alerta
para que se aproveite o presente.
O que vejo é uma representação da vida: fio frágil entre o nascer e o morrer. Somos inocentes como crianças, alheios às inúmeras possibilidades de rompimento dele. Buscando referências no Dicionário de Símbolos, algumas informações me chamaram a atenção: na tradição hindu, o estado da infância é denominado balya - estado prévio à obtenção do conhecimento. E uma crença popular da Antiguidade greco-romana dava à alma que deixa o corpo dos mortos a forma de uma borboleta. Nos afrescos de Pompéia Psique é representada como uma menininha alada.
ResponderExcluirApesar de ser uma menina, levantando o vestido e cercada de borboletas, o que sinto ao vê-la é algo sinistro, envolto em mistério...
Segue minha interpretação-poema sobre este quadro instigante:
ResponderExcluirMenina com expressão vazia,
mais morta do que as caveiras.
(Um bom perfume exalaria...
Só isso explica as borboletas).
Neste cenário-cianureto
a corda bamba vem das bocas
das falas mortas dos esqueletos
expressão de menina oca.
Reparem que ela se apresenta.
Perfumada, segura o vestido.
Mas de fato oculta suas tormentas
é infância sem sentido.
As duas "criaturas" não poderiam estar simbolizando pai e mãe mortos, tentando, através da linha embaixo dos pés da filha, protege-la?
ResponderExcluirNotem que do lado esquerdo existe uma névoa negra invadindo a figura da menina.
Estaria esta simbolizando a mãe, teoricamente mais "protetora"?
Também concordo com as outras observações, estou apenas ....divagando ou quem sabe, delirando...
Beijos ternos,
Vera
Rita, eu também JAMAIS teria um quadro desses em minha parede!
ResponderExcluirEnfim , arte é arte, temos que estar sempre com o olhar atento e crítico.
Beijos ternos,
Vera.
Rita, acredito que também não teria um quadro desses em minha parede...enfim arte é arte e temos que ter sempre um olhar crítico e observador. Repare como ela sempre nos transporta...
ResponderExcluirBeijos ternos e parabéns a você e a Cris pela iniciativa.
Vera.
Eu não gostei do quadro. Para mim, a figura tem um rosto de mulher amargurada e não de criança. Já que é para vaijar, vejo uma mulher infantilizada que não se dá conta da morte que embora esteja a sua espreita ela a ignora com mesuras e pensamentos infantis.
ResponderExcluirBusquei, como fez a Cris, a explicação no meu Dicionário de Símbolos. Como a artista trabalhou bem com eles!
ResponderExcluirCaveira- num sentido geral, emblema da caducidade da existência, como aparece nos exemplos literários do Hamlet e do Fausto. Contudo, como a concha do caracol, é, na realidade, o que resta do homem, após destruído seu corpo. Adquire, assim, um sentido de vaso da vida após a morte.
Borboleta- era, entre os antigos, emblema da alma e da atração inconsciente para o luminoso. A purificação da alma pelo fogo, vê-se representada numa pequena urna de Matti pela imagem do Amor, que tem em sua mão uma borboleta, da qual aproxima uma chama.. O anjo da morte era representado pelos gnósticos como pé alado, pisando uma borboleta, do que se deduz que a assimilavam à vida, mais que à alma em sentido transcendental .Isto explica que o psicanalista conceitue a borboleta como símbolo de renascer.
Corda- A corda de prata que aparece no simbolismo hindu, no ensino védico, concerne a um sentido mais profundo que o da ligação, pois refere-se ao caminho interior e sagrado que une a consciência exterior (intelectual) do homem à sua essência espiritual (ao centro do palácio de prata).
Daí, minha quadrinha:
O antes e o depois cercando,
na lassa corda de prata,
a linda e frágil menina.
Borboletas lhe dão vida.
Feição de mulher madura e sofrida em corpo e trajes de criança. A sua vida está nas mãos dos outros, talvez seja a falta de liberdade o maior peso a suportar. Caso solte os fios que a seguram à vida, ela terá dois caminhos a seguir: suportar a solidão das próprias decisões ou morrer por falta de conhecimento do futuro. As borboletas vislumbram a vitória do bem sobre o mal.
ResponderExcluirEste quadro não mexeu com minhas emoções nem com meus sentimentos, então apenas o que vejo friamente: sempre a Morte espreitando a vida... A vida representada pela graciosa criança que mesmo se equilibrando na tênue linha da sua juventude, sonha com a beleza e a liberdade das borboletas.
ResponderExcluir