(por: W. B.)
O escritor carioca Antônio da Fraga
Fernandes nasceu a 30 de junho de 1916. Sua mãe Waldomira da Fraga Fernandes
e seu pai Justino Fernandes se
conheceram no Segundo Congresso Operário Brasileiro ocorrido na cidade do Rio entre
8 e 13 de setembro de 1913, organizado pela Confederação Operária Brasileira
(COB): ambos apaixonados pelo ideário anarquista. Justino, padeiro, português
da cidade do Porto, teria aderido ao Anarquismo ao travar contato com o célebre
militante italiano Errico Malatesta (1853-1932) quando este propagava tal
ideologia pela península ibérica. A costureira capixaba Waldomira, nascida no
município de Caxoeiro do Itapemirim, por
sua vez, tornou-se anarquista a partir de seu envolvimento nas lutas trabalhistas
travadas no Rio de Janeiro, para onde havia migrado em busca de melhores
condições de vida.
O casal foi morar na Rua Senador
Eusébio, na área denominada Cidade Nova, localizada entre Catumbi e Canal do
Mangue. E seu filho, que futuramente assinaria apenas como Antônio Fraga,
largou a escola – que considerava extremamente chata e inútil –, passando a
estudar em casa mesmo, com auxílio dos pais. Acabou desenvolvendo uma forte
independência de pensamento. Fraga logo percebeu que se falava em uma língua e
escrevia-se em outra, quase sempre se escrevendo mais para fascinar ou iludir
do que para comunicar. Futuramente sua obra conteria uma forte crítica aos
“retóricos” que escrevem “difícil” para serem admirados sem serem
compreendidos, ou simplesmente para engambelar seus leitores.
Com a separação dos pais, adolescente
ainda, decidiu seguir rumo próprio. Foi para o Mangue, onde passou a vender
siri e bugigangas.
De biscate em biscate, ele ganhava a
vida. Em Minas Gerais empurrou vagonetes de pedra britada nas minas de ouro de
Nova Lima; em Goiás garimpou diamantes nas margens do Araguaia; no Estado do
Rio de Janeiro manejou enxada nos laranjais de Nova Iguaçu e administrou um
bananal em Magé; na metrópole carioca exerceu atividade de lanterninha de
cinema, trabalhou como auxiliar de cozinha no Hotel Glória, foi redator-chefe
da rádio Vera Cruz e funcionário da Legião Brasileira de Assistência. No meio
de tudo isso, Fraga arranjava tempo para escrever. E escrevia compulsivamente,
mesmo sem editor que aceitasse publicar suas histórias críticas, corajosas,
revolucionárias.
Em 1945, formou o grupo literário
Malraux. Em maio do mesmo ano, ele e sete participantes do grupo realizaram a
Primeira Exposição Pública de Poesia do Mundo, uma espécie de retrato poético-ideológico
da geração de 45. Ainda naquele ano, Fraga, Antônio Olinto e Ernande Soares,
fundaram a editora Macunaíma, que publicou a genial novela “Desabrigo”, de
Antônio Fraga, que critica a desigualdade social, a enganação religiosa, a
miséria e falta de perspectiva dos subúrbios cariocas.
A escolaridade formal de Fraga foi
bem curta: só tinha o primário incompleto. Mas, mesmo assim, sabia sete idiomas
e tinha amplos conhecimentos de Matemática, Filosofia e Botânica.
Sempre fez questão de transmitir seus
saberes, semeando consciências críticas, lutando por uma sociedade mais
fraterna.
Alfabetizou crianças e adultos em
Formiga, Minas Gerais. Em Queimados, ministrou cursos de literatura em casa,
organizou exposições de arte, participou da feira do livro, incentivou novos
talentos, organizou grupos de jovens ligados a teatro e literatura e escreveu
uma obra excelente, repleta de fecundas, produtivas e ferozes críticas à
opressão social. Morreu em 19 de setembro de 1993.
É publicado e estudado ainda hoje. São aconselháveis as edições “Desabrigo e outras Narrativas” (que saiu pela coleção Sabor Literário, da José Olympio Editora) e “Desabrigo e outros Trecos” (da Relume Dumará). Vale a pena também ler a pesquisa “Antônio Fraga: personagem de si mesmo”, da professora Maria Célia Barbosa Reis da Silva, publicada pela Ed. Garamond.
(ANTÔNIO FRAGA AINDA NÃO FOI LIDO PELO CLUBE DE LEITURA ICARAÍ)
Obrigada, Winter, por compartilhar um pouco da vida do Fraga. Muito interessante sua trajetória de escritor e sua forma de aprendizado.
ResponderExcluirCaro Winter, depois do João Antonio, que todos adoramos, você está com muito crédito! Obrigado por nos apresentar o Antônio Fraga. Vamos colocá-lo na lista. Abs.
ResponderExcluirWinter, sua matéria veio reforçar minha opinião de que muitas vezes é mais importante a garra, a vivência e a criatividade do que um diploma guardado numa gaveta,
ResponderExcluirAcredito que nosso país precisa, no momento, de bons técnicos, mas infelizmente, até nas classes mais humildes, o canudo continua sendo o grande sonho.
Acho que devemos estimular e dar valor ao trabalho bem feito,
Infelizmente esse conceito arcaico vem do tempo da escravidão, onde os filhos dos fazendeiros ricos saiam do Brasil para voltar "doutores", enquanto ser "técnico" era uma profissão menor,
Beijos ternos,
Vera.