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18 de dezembro de 2013

Prêmio UFF 2013: poesia classificada de Luiz Gawryszewski

    
Para não dizer que não falei de seios
 

 
                                                                  
      









 

Se o parto é a primeira separação,
O seio é o primeiro encontro
Com a pele, o calor e o leite.
O leite! Que seja infinito e que dure
O bastante para saciar a fome.

Que seja o primeiro dos seios
Depois dos desencontros 
Do primeiro dia da creche
E do não daquela menina
Tão bonita e tão vestida.

“Deixa ver, que te mostro”,
E, debaixo da mangueira,
No fundo do quintal, viu
E nunca mais esqueceu.
Do que a mãe lhe ocultava
Nos banhos trancados,
Na noite escura.

“Tira logo a roupa, garoto”.
Ela falou, assustando-o
Na incerteza do que faria,
Nem saber das delícias
Que ela lhe escondia.

Mostrou-se na política,
No seio do partido,
Mas, no meio da multidão,
Eram curvas, não palavras,
O que os seus olhos ouviam.


"Te quero nua", lhe diria.
“Revela-me teu corpo, pois,
Já não tenho o que esconder.”

Foram muitos seios,
Morenos, brancos, negros.
Tantos beijos, corpos, sonhos,
Vindas, despedidas.

Sem os desencontros,
Nunca os derradeiros encontros
Nem os seios da mulher amada.
Uma, duas, três, quatro,
Que importa o número,
Se for infinito enquanto dure.


4 comentários:

  1. Luiz, belo e sensível poema, parabéns! Você confirma minha tese de que os seios habitam para sempre o universo masculino. Os americanos que nos leiam. Eles também vão adorar!

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  2. Adorei. Me fez lembrar um dos melhores contos que já li: "Viagem aos seios de Duília", de Aníbal Machado. Gostei da atmosfera traçada nas letras do poema.

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  3. Parabens!
    Voce nos mostra atraves do belo poema,como essas primeiras vivências permanecem
    de forma significativa, no resto de nossas vidas
    Ceci Lohmann

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