Fundado em 28 de Setembro de 1998

20 de setembro de 2013

Entrevista em dose dupla: Elenir Teixeira & Sonia Salim

Escritoras de várias antologias poéticas, Elenir e Sonia, ambas integrantes do Clic, nos brindaram com uma entrevista-desafio. As perguntas foram formuladas por elas próprias, sendo que a entrevistadora também tinha que responder à própria pergunta e à da colega. Vejam o resultado e deem continuidade à entrevista utilizando o campo “Comentários”.


 
                               Elenir Teixeira                                                            Sonia Salim

Que emoção você gostaria de despertar em um leitor de seus textos? 

Elenir: Que eu despertasse nele as mesmas emoções e sentimentos que me levaram a escrever. Se eu trouxer lembranças  de minha infância, que ele consiga, também, trazer as suas ao presente. Se houver carência e angústia no meu texto, que ele, igualmente, as sinta comigo. Se eu falar de amor, que ele se lembre dos amores vividos. Que ele sinta em seus cabelos a carícia da brisa, se ela afagar os meus no meu verso. Esta é a relação idealizada por mim entre  autor e  leitor.

Sonia: Quando eu escrevo, pretendo levar o leitor a uma cadência nas palavras fazendo com que ele entre nas emoções contidas no poema de maneira dançante, onde as letras e palavras brincam.



Como ou em quê, você se inspira para escrever seus poemas, haicais, trovas? 

Elenir:  Quando faço  Haicais, inspiro-me na natureza. As paisagens, as flores, os rios, o mar, as montanhas, me extasiam. Ando, sempre, com um caderninho e sob o efeito desse arrebatamento escrevo meu HAICAI.  Há textos que trazem aos meus olhos  lindas paisagens, descritas  com muita sensibilidade, como os da grande escritora Virgínia Woolf, inspirando-me um Haicai. Mas, algumas vezes, faço-os sentimentais. Como os dedicados à minha bisnetinha ao saber que estava a caminho. Quanto aos poemas e trovas, são, geralmente, inspirados na própria vida; no meu quotidiano; nas minhas memórias, nas minhas leituras.

Sonia: Às vezes me inspiro em conversas com amigos, outras em fotos ou imagens que vejo pelas redes sociais. Também me inspiro nas leituras diárias, alguns personagens tocam a minha alma  e impulsionam a imaginação. Sem contar dos momentos em que preciso sair correndo para escrever as palavras que fluem e já está pronto o poema, é só fazer pequenos acertos.



O que desencadeou ou concorreu para que você entrasse pelo caminho da poesia?

Elenir: Sempre gostei de poesia. Quando menina, gostava de recitar versos nas festinhas familiares e na escola. E, como todo jovem. rabiscava minhas poesias. Mas, se as palavras me eram apaixonantes, os números e as contas também me atraiam.  Assim, a vida me levou para esse lado. Trabalhei com cálculos e cifras por mais de quarenta anos. Ao aposentar-me, dediquei-me à antiga  paixão. Fiz várias Oficinas de Literatura, dinamizadas pelos grandes escritores e amigos Wanderlino T. Leite Netto e Lena de Jesus Ponte. Com ela, também, um Curso de Haicais, na Estação das Letras. Fiz o Curso de Arte de Dizer, "Via Látea", com Marly Prates. Dessa forma, novamente seduzida pela palavra, rendi-me de vez à poesia. 

Sonia: Eu já havia iniciado um blog, mas estava meio paralisado até que um dia eu fiz uma conta no Twitter e conheci muitos amigos. Meu primeiro poema "insensatez", surgiu em conversa com um deles, desse dia em diante fui registrando tudo que eu escrevia no blog que tornou-se mais e mais visitado. Então, eu diria que fui impulsionada para o mundo da poesia através da interação com as pessoas. 



Quais são seus autores preferidos? Nacionais e estrangeiros?

Elenir: São tantos que me é difícil relacioná-los. Vou fazê-lo por gêneros.
Poesia: Cecília Meirelles; Carlos Drummond de Andrade; Adélia Prado; Mário Quintana; Fernando Pessoa. Haicais: Luiz Antônio Pimentel e Lena de Jesus Ponte.
Contos e Crónicas: Clarice Lispector; Machado de Assis; Chico Lopes; Eduardo Galeano; Rubem Fonseca; Ondjaki; Rubem Braga...
Romances: Machado de Assis; Graciliano Ramos; Guimarães Rosa; Milton Hatoum; José Saramago; Mia Couto;  Camus, Dostoiévski...

SoniaEu caminhei pouco no mundo da literatura e penso que não dê para falar muito. Acho importante ser sincera porque os amigos ao tomarem conhecimento poderão ajudar nas indicações do que eu preciso ler, do que é imprescindível para o conhecimento. Deixarei alguns nomes, sem fazer distinção: Rubem Alves, Mario Sergio Cortella, Mario Vargas Llosa, Arthur Schopenhauer, Dostoiévski, Mia Couto, Eduardo Galeano.






19 comentários:

  1. Querida Sônia, é estranho que o primeiro comentário seja o meu. Mas não tinha lido, ainda, suas respostas. Gostei muito. Senti, que nossa trajetória pelo mundo das letras é bem parecida, embora eu não tenha blog, nem participe das Redes o que, acredito, seja, realmente, interessante.. Lendo-a sobre a interação com as pessoas, dei-me conta de que, ao responder à sua pergunta, fui ingrata e não citei a grande influência que o contato com vocês, meus caros companheiros do CLIC, exerceu nesse meu percurso pela literatura. Beijos.
    Elenir

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Elenir, querida, boa noite! É muito bom estar com você aqui no CLIc e poder aprender um pouco mais. Vou adotar a prática do caderninho sempre perto para escrever os pensamentos que surgirem rapidamente e que perco por estar desprevenida. Quanta riqueza na sua vida poética!!! As suas palavras já inspiram poesia. Uma coisa que gosto também aqui no clube de leitura é estar em contato com os novos escritores. Eu adquiro, sempre que posso, um ou dois livros dos novos autores. Ainda há muito a conhecer, mas vou devagar.

      Parabéns à Rita Magnago pela postagem! Boas inspirações para você, Elenir!

      Beijos! Sonia Salim

      Excluir
  2. Meninas, foi muito bom conhecer um pouco mais de vocês através dessa entrevista-desafio. Eu gostaria de saber o que vocês acham das oportunidades atualmente existentes em termos de concursos de poesias e outros gêneros. Sei que recentemente Elenir ganhou um prêmio por seu belo haicai sobre Petrópolis. Isso te animou a participar de outros concursos, Elenir? E você, Sonia, já participou de algum? Caso não, o que falta ?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rita, eu só participei de um concurso de frases poéticas, no blog Sempreviva e o primeiro lugar terminou em empate, eu e uma amiga vencemos. Trabalhamos muito para que as pessoas comentassem e votassem nas nossas frases.

      Excluir
  3. Muito bom, Elenir e Sônia. Coisa boa saber mais um pouquinho sobre vocês, sobre o que pensam e sentem sobre essa arte que nos une aqui no CLIc, a literatura. Parabéns!

    Antonio Rodrigues

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia, Antonio! Obrigada. Eu estou tateando timidamente nesta área timidamente, por atrevimento mesmo. rs Abraços!

      Excluir

  4. Rita
    Gostei muito dessa ideia da entrevista "dupla".Pude acompanhar,seguindo a cada pergunta,
    como cada uma de nossas colegas lidam com os meabndros da criação,as emoções,e as palavras...

    Queria deixar aqui uma pergunta;como um escritor lidaria com os aspectos censores da mente?fortes (como nossas pulsões), que se projetam no
    As emoções ,carregadas com palvras-idéias seriam mais fortes (como nossas pulsões), e se projetariam no "papel",permitindo sobrepujar os censores?

    Li um pouco sb o processo criativo visto pela Psicanalise,mas penso que a vivência descrita por aquele que esctreve nos é mais útil e verdadeira.

    Parabens às nossas queridas Sonia e Elenir....Ceci

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ceci, muito grata pela sua pergunta que veio mostrar o quanto preciso me libertar dos censores que permeiam a minha vida constantemente. Talvez me falte recursos/leituras para respondê-la, mas vou continuar e você poderá retornar se eu cometer alguma confusão na resposta. Existe aquele momento que escrevo impulsionada pelas palavras que vão surgindo, mas sempre tem o censor que faz com que eu não publique o poema antes de passar alguns dias, para possíveis mudanças nas palavras para amenizar o texto. Eu nunca escrevo quando estou em momentos de raiva ou se o faço, destruo as palavras posteriormente porque evito passar ao público sentimentos que possam trazer grande impasse. Quando algum texto carregado de sentimentos fortes é publicado, talvez não tenha surgido de sentimentos reais, mas imaginários. Eu gostaria de ter mais liberdade, escrever palavras mais contundentes, mas desde a infância tenho sido podada.

      Beijos! Sonia Salim

      Excluir
    2. Sonia, tomei a liberdade de me meter na sua resposta à Ceci, que mandou muito bem na sua pergunta, porque já passei por situação semelhante e gostaria de dividir com você e nosso grupo. Primeiro, gostaria de te parabenizar pela sinceridade e acho que essa sua característica vai te ajudar muito na busca da 'libertação'. Ano passado, quando enviei uma crônica para o concurso da UFF, eu escrevi de fato sobre um acontecimento na minha infância. Na hora não me preocupei porque não sou de pensar muito à frente, tenho uma visão de curto alcance. Mas, quando o texto foi classificado, aí caiu a ficha: minha família e meus amigos iam ler, e o julgamento deles, como seria? Ainda bem que era tarde e Inês, morta. Ouvi da minha mãe que a eu exagerei nas tintas, o que não concordo em absoluto; da minha tia que eu fui muito corajosa e coisas do tipo. E olha que eu contei o que achei mais leve. Ainda não tenho coragem de ir mais fundo, mas foi um começo. Muitos de nós fomos podados desde a infância. Eu também, meu pai me controlava só pelo olhar e essas algemas invisíveis são muito difíceis de abrir, mas elas vão alargando, alargando, até chegar o dia que sairão fácil do nosso pulso. Queria te dizer isso. Você certamente não está sozinha nesse caminho difícil, mas é um caminho que traz alívio, paz e harmonia. Gosto muito do seu jeito de ser. Beijos carinhosos.

      Excluir
    3. Rita, depois que eu escrevi sobre a "infância podada", senti que faltou dizer que contestei muito na adolescência, lutei pela liberdade de sair, passear, pensar, namorar. E de certa forma eu consegui um pouco dessa tão sonhada liberdade pela qual lutei. Hoje sinto-me prisioneira de mim mesma. Agora fica a questão: Se quem aprisiona sou eu, seria fácil soltar essas algemas? Grata. Beijos!

      Excluir
  5. As emoções ,carregadas com palvras-idéias seriam mais fortes (como nossas pulsões), e se projetariam no "papel",permitindo sobrepujar os censores?

    Li um pouco sb o processo criativo visto pela Psicanalise,mas penso que a vivência descrita por aquele que esctreve nos é mais útil e verdadeira.

    Parabens às nossas queridas Sonia e Elenir....Ceci

    ResponderExcluir
  6. É sempre uma delícia ler essas amigas. Perguntas excelentes e respostas inteligentes e sensíveis. MUITO BOM TER VOCÊS NO CLIC.
    Agradecimentos por lê-las aqui também. E as fotos alegram nosso olhar!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito grata, Elô. Eu amei estar aqui com a Elenir, um momento para aprender. Confira na resposta dela como foi difícil colocar na balança os números e as letras. Parece que as letras estão no momento certo na vida de Elenir Teixeira, pois é gratificante, usá-las em harmonia para o deleite de todos.

      Grata, amiga! Beijos!

      Excluir
  7. Oi Rita ou coordenador da entrevista..vi meu comentario que postei confuso na escrita..acho que andei apertando teclas a mais ou a menos..desculpem-me...mas acho que deu para entender.

    ResponderExcluir


  8. Ceci, em primeiro lugar, agradeço ser parabenizada por você. Quanto à sua dúvida, creio não ser a pessoa indicada para responder-lhe, pois escrevo pouco, embora leia muito, e, menos ainda, tenho conhecimentos de psicologia. Acredito, entretanto,que o autor de uma obra ficcional, não consiga afastar-se totalmente de sua realidade. Ambas, ficção e realidade, se entrelaçam no texto. Mesmo partindo da eclosão de uma ideia que, em princípio, nada tem a ver com as pulsões íntimas que o afligem e poderiam ser objeto de autocensura, ele atende a outra pulsão mais forte, a do "Querer-Escrever", de que trata Roland Barthes. Certamente, nem se dará conta de que, nas entrelinhas, na forma de se expressar, nas características de suas personagens e, até mesmo, no retratar o local onde se desenrola a cena, está sofrendo a influência daquela outra pulsão que o aflige e não pretendia expor. Naturalmente, por isso, seu texto possa tornar-se ainda mais rico. Lembro-me do que nos disse o Professor Paulo Bezerra, excelente tradutor de Crime e Castigo, de Dostoiévski, convidado a presenciar a reunião do CLIC, que Raskólnikov, a personagem principal desse livro, tinha estados de letargia iguais aos sofridos pelo autor. Naturalmente, ao sentir o jorro das palavras que lhe impulsionavam a escrever, nem se tenha dado conta disso. Por outro lado, o Professor cita que, em carta dirigida por ele a uma amiga, Dostoiévski "se autodefine em um movimento pendular entre a sede de crer e a força dos argumentos contrários que o levam à descrença (na carta ele se dizia filho do século, filho da descrença e da dúvida". "Essa questão filosófica que o atormentava, segundo a carta transcrita, tendo em vista que vai de encontro ao traço marcante de sua época que é a superação de velhos ideais, está presente em sua obra. Os conflitos psicológicos de suas personagens, em Crime e Castigo, decorrem, em grande medida, das relações sociais e do contexto ideológico em que elas vivem". Portanto, a meu ver, a pulsão que o atormentava alimentou sua obra, conscientemente, ou não,levando-o, inclusive, a criar um dos maiores romances universais. Tudo o que falei, entretanto, não corresponde à minha verdade. Tenho muita dificuldade de expor-me e meu censor está sempre presente, impedindo-me de revelar meus combates internos. Vou conversar com minha parceira de entrevista, nossa querida Sônia, afim de que, comparsas do mesmo problema, possamos, juntas, libertar-nos desse monstro, o "censor", conseguindo, enfim, publicar nosso livro. E, na certa, seremos gratas a Rita que, não por acaso, nos aproximou. Tem demonstrado ser profunda conhecedora da alma humana. Alonguei-me e, talvez, não a tenha esclarecido, Cecy. Desculpe-me. Mas, "Crime e Castigo" é minha paixão. Disputada, agora, com "Angústia".
    Abraços da esperançosa
    Elenir

    ResponderExcluir
  9. Sonia, minha amiga, falei tanto e não agradeci suas ternas palavras. Estamos, unidas, aprendendo. Sempre é tempo!
    Beijos.
    Elenir

    ResponderExcluir
  10. Sonia, você, uma cliceana virtual tão participativa, quando nos dará a alegria de comparecer em uma de nossas reuniões?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa resposta é muito difícil, Evandro, pois eu não tenho previsão. Mas como sou "virtual" é tão fácil estar aí com vocês, basta estar conectada no Twitter e enviar as minhas impressões acerca das leituras. Para isso é preciso que alguém na reunião esteja conectado também recebendo as mensagens. Eu participo dessa forma de alguns eventos. É mais fácil do que sair daqui da minha cidade. O que você pensa disso, estar em qualquer lugar sem precisar sair fisicamente da cidade? São as tecnologias a nosso favor. Abraços!

      Excluir

Prezado leitor, em função da publicação de spams no campo comentários, fomos obrigados a moderá-los. Seu comentário estará visível assim que pudermos lê-lo. Agradecemos a compreensão.