Ele teria uns três ou quatro aninhos.
1º Dentro do carro, aconchegado no meu colo, perguntou:
- Vovó, já tá na hora de dormir?
- Não, querido. Nós estamos dentro do túnel.
- O “tuni” é bonito vovó! A hora de acordar ficou
lá fora?
2º Eu estava tricotando na sala, quando ele me chamou:
- Vovó, me dá a mão e vem ver uma coisa que eu fiz
pra você!
Lá fomos os dois de mãos dadas pelo corredor.
Chegando ao quarto, o pequeno arquiteto mostrou o
castelo que havia construído com seus bloquinhos de madeira, desses
que toda criança tem, vermelhos, azuis, verdes, janelas, portas,
pontes...
- Que lindo, eu disse encantada!
Quando ele, entusiasmado, encostou seu dedinho no
“castelo”, este se desmoronou. Eram muitos “tijolos”
espalhados pelo chão.
Mesmo sem saber, a criança aprendia, naquele
instante, o que era decepção. Seus olhinhos me diziam. Desejei que
os castelos que construísse em sua vida não fossem tão frágeis
quanto aquele. Que as decepções lhe fossem poupadas.
3º-Através das grades da varanda, no 11º andar, ele
espiava a rua lá em baixo. De repente, chamou-me:
-Vovó, vem “vê” as folhinhas verdes dançando
(ventava muito e as copas das árvores sacudiam-se ao sabor do
vento). -Elas estão escutando música?
-Estão, querido. O vento canta e elas dançam.
Respondi-lhe
4º- Estávamos à mesa do café quando ele me
perguntou:
- Gosto muito meu anjo! Adoro!
- Você quer um pedaço de queijo?
- Quero. Mas onde está o queijo que eu não estou
vendo?
- Vovó, se eu “sesse” anjo de verdade, eu
botava minhas asinhas e ia voando lá no céu cortar um pedaço de
queijo da lua pra você.
Emocionada, pensei: Que a vida preserve suas asas
para que você possa continuar voando nos seus sonhos!
5º-Era noite e a lua brilhava no céu:
-Vovó, quem acendeu a luz da lua? - Perguntou-me
-Foi o sol querido. Ele emprestou a luz dele à lua,
para ela ficar mais bonita.
-Vovó, então o sol é amiguinho da lua?
- É, sim, meu amor.
-E por que ele não fica perto dela no céu? Quando
ela vem, ele vai. É porque ela só tem um olho?
Um dia, pensei, ele vai compreender que a verdadeira
amizade existe, apesar de...
6º Na manhã seguinte, novamente olhando o céu,
apontou-me:
-Vovó, olha um coelho lá no céu! Ele tem uma
orelha grande! –Olha, vovó, ele agora virou peixe!
Tão pequenino e já descobriu a fauna das nuvens!
Pensei.
x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.
Sempre acreditei que, com sua sensibilidade, ao crescer
seria um poeta.
Hoje, ele tem quatorze anos. Demonstra sua sensibilidade
e amor à natureza, não através de palavras, mas da fotografia. Faz
fotos lindas e cursa a Associação Fluminense de Fotografia.
Norma, Dília, Elô e Elenir |
Essa que vocês chamam de Elenir é de fato Geórgia. Em que mundo vocês vivem?
ResponderExcluirTony
Maravilhosa Vovó! Como disse por e-mail, que neto deixaria de fruir a poesia e a sensibilidade de Elenir? Esse é um caso de nascer em berço de ouro.
ResponderExcluirElô
Parabéns Elenir, lindo texto! Você é a mais doce das poetisas com mais de 48 anos!!!
ResponderExcluir
ResponderExcluirElenir
Encontro tanta suavidade no seu texto!...
Percebo tambem que é com seu carinho e sensibilidade que sensibilizastes teu neto,
seguindo seu olhar pela arte.bjs ceci
à
Querida e doce Elenir, você, como uma pessoa sensível, pode desfrutar dos pequenos grandes momentos que os netos nos proporcionam.
ResponderExcluirQuanta riqueza!
Quantos mimos!
Quanto nos permitem doar...
Beijinhos ternos e sempre cheios de esperança,
Vera Freire.
Agradeço a Elô, Newton, Rita, Ceci e Vera Lúcia suas postagens carinhosas que são um incentivo para mim.
ResponderExcluirElenir
Elenir, podes ter certeza que de alguma forma contribuiste para o teu neto ter o olhar de poeta...
ResponderExcluirParabéns pelo sensibilidade do texto! Vou ver se me lembro de anotar as frases dos meus filhos. O maior, por exemplo, me surpreende com perguntas dificílimas de responder, principalmente no que se refere aos mistérios da vida e do ser humano. É impressionante!
Um abraço,
Rejane
Elenir, podes ter certeza que de alguma forma contribuiste para o teu neto ter o olhar de poeta...
ResponderExcluirParabéns pelo sensibilidade do texto! Vou ver se me lembro de anotar as frases dos meus filhos. O maior, por exemplo, me surpreende com perguntas dificílimas de responder, principalmente no que se refere aos mistérios da vida e do ser humano. É impressionante!
Um abraço,
Rejane