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12 de dezembro de 2012

Conversando com a Vovó: Elenir



Ele teria uns três ou quatro aninhos. 
 
1º Dentro do carro, aconchegado no meu colo, perguntou:
  - Vovó, já tá na hora de dormir?
  - Não, querido. Nós estamos dentro do túnel.
  - O “tuni” é bonito vovó! A hora de acordar ficou lá fora?


2º Eu estava tricotando na sala, quando ele me chamou:

- Vovó, me dá a mão e vem ver uma coisa que eu fiz pra você!

Lá fomos os dois de mãos dadas pelo corredor. 
 
Chegando ao quarto, o pequeno arquiteto mostrou o castelo que havia construído com seus bloquinhos de madeira, desses que toda criança tem, vermelhos, azuis, verdes, janelas, portas, pontes... 
 
- Que lindo, eu disse encantada!

Quando ele, entusiasmado, encostou seu dedinho no “castelo”, este se desmoronou. Eram muitos “tijolos” espalhados pelo chão. 
 
Mesmo sem saber, a criança aprendia, naquele instante, o que era decepção. Seus olhinhos me diziam. Desejei que os castelos que construísse em sua vida não fossem tão frágeis quanto aquele. Que as decepções lhe fossem poupadas.

3º-Através das grades da varanda, no 11º andar, ele espiava a rua lá em baixo. De repente, chamou-me: 
 
-Vovó, vem “vê” as folhinhas verdes dançando (ventava muito e as copas das árvores sacudiam-se ao sabor do vento). -Elas estão escutando música?
-Estão, querido. O vento canta e elas dançam. Respondi-lhe

4º- Estávamos à mesa do café quando ele me perguntou:

-Vovó, você gosta de queijo?
- Gosto muito meu anjo! Adoro!
- Você quer um pedaço de queijo?
- Quero. Mas onde está o queijo que eu não estou vendo?
- Vovó, se eu “sesse” anjo de verdade, eu botava minhas asinhas e ia voando lá no céu cortar um pedaço de queijo da lua pra você.


Emocionada, pensei: Que a vida preserve suas asas para que você possa continuar voando nos seus sonhos!

5º-Era noite e a lua brilhava no céu:

-Vovó, quem acendeu a luz da lua? - Perguntou-me
-Foi o sol querido. Ele emprestou a luz dele à lua, para ela ficar mais bonita.
-Vovó, então o sol é amiguinho da lua?
- É, sim, meu amor.
-E por que ele não fica perto dela no céu? Quando ela vem, ele vai. É porque ela só tem um olho?

Um dia, pensei, ele vai compreender que a verdadeira amizade existe, apesar de...


6º Na manhã seguinte, novamente olhando o céu, apontou-me:

-Vovó, olha um coelho lá no céu! Ele tem uma orelha grande! –Olha, vovó, ele agora virou peixe!

Tão pequenino e já descobriu a fauna das nuvens! Pensei.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.

Sempre acreditei que, com sua sensibilidade, ao crescer seria um poeta.

Hoje, ele tem quatorze anos. Demonstra sua sensibilidade e amor à natureza, não através de palavras, mas da fotografia. Faz fotos lindas e cursa a Associação Fluminense de Fotografia.


Norma, Dília, Elô e Elenir



8 comentários:

  1. Essa que vocês chamam de Elenir é de fato Geórgia. Em que mundo vocês vivem?

    Tony

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  2. Maravilhosa Vovó! Como disse por e-mail, que neto deixaria de fruir a poesia e a sensibilidade de Elenir? Esse é um caso de nascer em berço de ouro.
    Elô

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  3. Parabéns Elenir, lindo texto! Você é a mais doce das poetisas com mais de 48 anos!!!

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  4. Elenir
    Encontro tanta suavidade no seu texto!...
    Percebo tambem que é com seu carinho e sensibilidade que sensibilizastes teu neto,
    seguindo seu olhar pela arte.bjs ceci
    à

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  5. Querida e doce Elenir, você, como uma pessoa sensível, pode desfrutar dos pequenos grandes momentos que os netos nos proporcionam.
    Quanta riqueza!
    Quantos mimos!
    Quanto nos permitem doar...

    Beijinhos ternos e sempre cheios de esperança,
    Vera Freire.

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  6. Agradeço a Elô, Newton, Rita, Ceci e Vera Lúcia suas postagens carinhosas que são um incentivo para mim.
    Elenir

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  7. Elenir, podes ter certeza que de alguma forma contribuiste para o teu neto ter o olhar de poeta...
    Parabéns pelo sensibilidade do texto! Vou ver se me lembro de anotar as frases dos meus filhos. O maior, por exemplo, me surpreende com perguntas dificílimas de responder, principalmente no que se refere aos mistérios da vida e do ser humano. É impressionante!

    Um abraço,
    Rejane

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  8. Elenir, podes ter certeza que de alguma forma contribuiste para o teu neto ter o olhar de poeta...
    Parabéns pelo sensibilidade do texto! Vou ver se me lembro de anotar as frases dos meus filhos. O maior, por exemplo, me surpreende com perguntas dificílimas de responder, principalmente no que se refere aos mistérios da vida e do ser humano. É impressionante!

    Um abraço,
    Rejane

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