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18 de dezembro de 2012

Conto Integrante da Antologia "Prêmio UFF de Literatura 2012" (3)


As histórias que contam

novaes/


Bom dia. Foi sim senhor, trabalhei na obra do Maracanã, virava cimento, levantava concreto, eu que tento me manter reto, no prumo dessa vida. Sim, me dava bem com os colegas. Trabalho em equipe. As metas? Cumpri todas. Sem atrasos, sem faltas. Não sou de faltar, nem nas segundas-feiras. O senhor sabe, segunda é o dia da falta no Brasil. O peão bebe o domingo todo e na segunda não consegue levantar. Eu, não. Gosto da minha cervejinha, mas nada que me derrube. Como? Foi... É... Derrubei um engenheiro lá. Enfiei um soco na cara dele. O cara tava de implicância comigo. Um dia ele me ofendeu. Falei que era a mãe dele, não a minha. E pra ele não esquecer, quebrei esses dente aqui dele, ó. Virou o engenheiro mais banguela do planeta. O quê? Ah, tá... sim senhor... eu aguardo o senhor entrar em contato. Bom dia.

* * * * 

Vem aqui, Zé. Põe a mão na barriga. Sente só. Esse menino pula demais, parece que está torcendo lá nesse Maracanã que você está construindo. Eu sei, eu sei, reformando. Pra Copa do Mundo! Uma obra daquele tamanho, vai ficar bonita? Como está indo? Você não tem me contado nada, antes sempre falava da obra, dos colegas, daquele engenheiro chato... Já tem uns meses que você não fala mais do serviço. Sai de manhã, volta de noite; só vejo que você está cansado, com esse ar aborrecido; aconteceu alguma coisa, Zé? 

Aconteceu, ora, aconteceu que a notícia mais importante, o que tenho pra dizer, é que sua barriga está linda. Lembra o que o doutor falou? Que pro neném vingar você não podia se aborrecer? Nada de esforço, nada de chateação. Até saiu do colégio, parou de dar aula. Repouso absoluto, lembra? E eu vou ficar aqui falando daquele engenheiro lambão? Nada disso! A única obra que me interessa agora é essa que estamos construindo juntos, Rosa, esse filho há tanto tempo querido. Além disso... aquele caso do engenheiro já foi resolvido...

Que sorriso maroto é esse, hem?...

* * * * 

Sim, senhor. Não, senhor. A fila está grande, mas não estou cansado não. É, eu sei. Em pé, lá fora, debaixo desse sol, bem umas três horas, mas eu tô acostumado. Meu trabalho é assim mesmo. Não tenho medo de serviço não. Chova ou faça sol, o suor é o mesmo, sempre molhado. Onde tem tabuleta de emprego, doutor, tem sempre muita gente querendo. O senhor já pensou se pudessem medir esses corações em fila? Quanto de angústia, de medo, de esperança? Quantas histórias tem aí nessa fila, doutor? E cada um chega aqui e conta um pouquinho pro senhor. Como o senhor faz? Escolhe a história mais bonita? A mais comum, né? É, a mais comum. Se tiver muita feiúra, ou muita beleza, o senhor descarta. História exagerada, muita desgraça ou sucesso demais, tudo isso se desconfia, sai do padrão, né? Pra que arriscar? Quanto mais comum, quanto mais igual, melhor. Eu entendo. São peças, né? Quanto mais previsíveis, melhor, menos dor de cabeça. Já pensou se a betoneira tivesse sentimento? Os tijolos? O cimento? Esse então mudava de humor de acordo com a situação. Seco e disperso quando pó. Maleável quando aguado. E finalmente um sujeito duro e definitivo, este senhor Cimento, quando adulto. Chova ou faça sol, doutor, os sentimentos não mudam, nem as pessoas, nem a função das máquinas e dos materiais, nem o trabalho que fazemos com eles. É isso que eu faço, chova ou faça sol. Viro cimento, levanto concreto, em qualquer tempo, isso é o correto. O quê? Por que eu saí da obra do Maracanã? Tô tentando melhorar de emprego, só isso. O quê? Engenheiro? Sei não... Dente quebrado?... ... ... É, tem o telefone aí anotado. Tá, sim senhor... eu espero sua ligação.

* * * * 

Oi, amor, que bom que você chegou mais cedo. Zé, fiquei com medo. Senti umas pontadas na barriga. Fiquei nervosa, aqui sozinha. Liguei pra minha mãe. Conversamos pelo telefone. Ela veio de novo com aquelas histórias de que você é muito esquentado, que não para nos empregos, que não acata chefia, que acaba brigando... Pois eu respondi a ela que você está muito bem lá no Maracanã. Pra ela parar com isso. Mas, quer saber?, mesmo que você seja um pouco revoltado eu não ligo. Você não é um cabeça-quente, suas revoltas têm sempre uma razão de ser. Se eu quisesse um marido frouxo tinha aos montes me querendo, até caras com situação. Mas eu escolhi você. Lembra? A família toda contra e até os vizinhos faziam carga. Inventavam histórias. Aumentavam. Tiravam conclusões. Tudo por causa daquele caso com seu pai. Tanto chamaram você de agressivo. Violento, revoltado, eles falavam. Dizem que você não aceita ordens desde aquele dia. 

Pai, chefe, presidente da República, Papa!... As pessoas pensam que posição é o que faz a pessoa. Eu vi muito cedo que isso não funciona. Um dia cheguei em casa e o velho estava lá, meu pai, bêbado, batendo, xingando, espancando a minha mãe. Parti pra cima dele. Eu tinha 15 anos. Explodi. Desde os cinco anos de idade eu via isso, se não com os olhos, fechados no quarto, via com os ouvidos, sentia com a pele arrepiada de raiva, me afogava, engolia salgado, porque eu não deixava a lágrima sair. Ficou tudo aqui no peito: o choro da minha mãe, os gritos, o corpo marcado, o sangue, junto com o grito que eu queria dar, o maior de todos os gritos do mundo, e que me queimava por dentro porque não conseguia sair. Era um grito adulto demais para a boca de um menino. Impossível de sair. Agora, sempre que eu sofro um abuso, esse salgado volta todo, amarga a minha boca, parece uma onda. Quem se prevalece de posição para ofender, eu não vejo pai, chefe, diretor, presidente; eu vejo só um verme, embriagado pelo poder que não sabe usar, um poder que está se vendo que não cabe dentro daquela pessoa, ela é pequena demais para ter aquele poder. Aí fica tudo deformado: a pessoa, suas atitudes e a função que se esperava dela. Dá tudo errado. Por isso, eu sei muito bem que não é um pedaço de papel que vai me dizer quem é pai, quem é chefe. 

Nem quem é mãe, Zé. As coisas que os papéis dizem, dizem por dizer. Porque as pessoas querem estabelecer por escrito, firmar, jurar de papel passado com registro em cartório, como se fosse possível transformar a verdade em palavras. Eu vejo isso lá na escola. De tempos em tempos mudam os livros de História. Até os de Geografia e Matemática! Descobrem-se novas verdades, novas histórias, que estavam ocultas. E com certeza ainda há outras tantas verdades que não conhecemos, histórias que ainda não contaram. 

De livros eu não entendo, Rosa, eu sei do que eu vejo na vida real. Um chefete não pode xingar minha mãe, do mesmo jeito que meu pai xingava. Se eu fui homem pra avançar pra cima do meu próprio pai, não vai ser ninguém que vai me intimidar e me ofender.

Você tem razão. Essas coisas escritas não valem muito mesmo. Pensa bem: como é possível pegar uma verdade inteira, cheia de senões, cheia de detalhes, de visões e razões diferentes e reduzí-la a uns sinais escritos num papel? As dores entram onde nessas letras? As raivas, as alegrias, as dúvidas? Os medos? A verdade só pode ser conferida com os olhos. Com o tato. Pelos ouvidos da alma. Com os sentidos e os sentimentos. Sou mãe, sou pai, sou chefe, sou presidente!... Podem escrever no papel o que quiserem, não passam de histórias que eles querem nos contar, como se fossem verdades só porque estão escritas num papel. Mas são apenas promessas. São obras de ficção à espera de serem confirmadas pelos sorrisos ou contestadas pelas lágrimas, aprovadas pela satisfação, pelo amor, ou irremediavelmente desacreditadas pela indiferença e pelo ódio.

Como aquela história do seu tio, não é? Ainda bem que você, mesmo adolescente, denunciou aquele safado. Ele teve o que merecia. Um tio de verdade não faria aquilo. Irmão da sua mãe, e ela não percebeu. Pior, não acreditou em você... Você foi valente. Sempre foi. Ainda é. Como você diz? “Nunca se esqueçam de que a rosa, além de beleza e perfume, também tem espinhos”... Mas, querida, chega de se aborrecer com isso, esses assuntos não fazem bem pro neném. Você não pode se exaltar. Agora está tudo bem lá no Maracanã, você não pode se alterar, vamos pensar no neném. 

Zé, por que você chegou mais cedo hoje? Que história foi essa?

* * * * 

José da Silva Quintino, sou eu. Currículo de trabalhador é a Carteira de Trabalho. O senhor pode ver aí onde já trabalhei, tá tudo anotado. É. Sim. Foi. Mas tem umas coisas que não estão escritas aí. O senhor sabe, nessa folhinha pequena aí não cabem as obras que eu já fiz. Não cabem as estradas, rodovias de se perder de vista; não está escrito aí quantos milhares de carros estão passando nelas neste exato momento. Também não diz aí do aeroporto que eu ajudei a reformar e ampliar. Já pensou se viesse na Carteira de Trabalho pelo menos um “muito obrigado” dos passageiros que agora podem pegar seu avião com mais conforto? Ia precisar de um chip nessa carteira, pra poder juntar tanta informação. E tem a barragem, é, hidrelétrica, foi em outro estado, mas a energia dela vai chegar num monte de cidades. Devia vir a lista aí, das cidades beneficiadas e até das famílias, né? Ou pelo menos um agradecimento do Governo Federal. Mas, não, aí tem só o nome da empresa em que trabalhei. É, só o nome do empregador. É a história que essa carteira conta: quem foram os meus empregadores, os meus patrões, e quanto tempo servi a cada um deles. Mais nada. Parece que é só o que conta, não é?... ...

* * * * 

Alô, senhora Rosa? Aqui é do departamento de Recursos Humanos. Estou ligando para dizer que seu marido será recontratado. É, ele vai voltar. Concordamos com seu argumento. Sim. Afastamos o engenheiro. É, foi advertido e afastado para outra obra. A senhora está certa, ninguém pode ofender um empregado daquele jeito. Sim, severamente advertido! Nossa empresa se pauta pela ética nas relações de trabalho, viu? Chefes e operários aqui fazem parte da mesma equipe, somos uma grande família e na nossa empresa todos são respeitados. Isso! Tem toda razão! E... quanto àquela ideia da senhora, de contar essa história horrível, esse caso infeliz, à imprensa e ao sindicato, justo nesse momento em que a comitiva da Fifa está vindo para ver a obra... vamos esquecer isso, não é? A situação já foi resolvida, não acha? Ah, muito obrigado! Obrigado mesmo!

* * * * 

Rosa, meu amor, nem te conto. A situação vai melhorar muito lá no Maracanã. 

É?

É. Me avisaram agora pelo celular. Afastaram aquele engenheiro. A paz voltou na minha vida. Amanhã começo uma nova etapa no meu trabalho!

Que bom, amor, fico feliz por você. Pois então vou lhe dar outra notícia: o médico marcou a cesariana para amanhã.

Vai dar tudo certo.

Vai sim.

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Leia também o conto de Carlos Benites clicando no link abaixo:
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2012/12/conto-integrante-da-antologia-premio_18.html

Leia também a crônica de Rita Magnago clicando no link abaixo:
http://clubedeleituraicarai.blogspot.com.br/2012/12/cronica-integrante-da-antologia-premio.html




15 comentários:

  1. Podem dizer que eu sou suspeita que nem ligo, mas adoro seus contos. Têm uma sensibilidade e uma docilidade que me encantam. Seu pedreiro é porreta, assim como o "Pintor de Paredes". Parabéns my love!

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  2. Newton, um prazer ler o seu conto. Não li os contos nem as poesias, fiquei restrito às crônicas. Muito bom conto. Você é, realmente, um escritor. Vê-se isso em certos detalhes, em saber usar (às vezes até instintivamente) certas coisas muito bem colocadas, que na pena de outro não ficaria bom. Boa linguagem, passagens ágeis mas dizendo muito, um trabalho bom. Foi o primeiro conto que li desse concurso. É, é muito difícil ser julgador num concurso literário, e como digo, entre os primeiros escolhidos, qualquer um pode ser o vencedor, não é fácil decidir. Esse conto não teve a pegada (palavra sua) emocional e certas sutilezas do outro vencedor do ano passado, mas é um conto muito bem escrito. Parabéns e um forte abraço.
    Carlos Rosa.

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  3. "Pensa bem: como é possível pegar uma verdade inteira, cheia de senões, cheia de detalhes, de visões e razões diferentes e reduzí-la a uns sinais escritos num papel? As dores entram onde nessas letras? As raivas, as alegrias, as dúvidas? Os medos? A verdade só pode ser conferida com os olhos. Com o tato. Pelos ouvidos da alma. Com os sentidos e os sentimentos."
    Destaque para esse trecho.Muito difícil mesmo pegaruma verdade inteira, somente pode-se chegar perto dela através da literatura e de sensibilidades como a sua. Adorei essa Rosa forte que usou da palavra paar defender seu amor, sua família.
    Como sempre,Newton, sua sensibilidade narrativa nos prende e surpreende.

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  4. Newton, meu caro contista, que prazer ler este seu conto. E como é bom esse espaço que você vai abrindo em seus contos a personagens geralmente desprezados e que em você de repente ganham vida e nos compram a simpatia. Foi assim com o pintor e agora com o pedreiro. Parabéns!

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  5. "Quem se prevalece de posição para ofender, eu não vejo pai, chefe, diretor, presidente; eu vejo só um verme, embriagado pelo poder que não sabe usar, um poder que está se vendo que não cabe dentro daquela pessoa, ela é pequena demais para ter aquele poder". Caro Newton,seu conto é, todo, excelente! Trechos leves e poéticos, trechos fortes mostrando o que vemos em nosso dia a dia. Como o destacado por mim. Infelizmente, a ambição do poder, não para usá-lo em benefício do outro, mas de si próprio. O pedreiro e sua mulher, Rosa, conquistaram-me. E seus contos, a mim, cada vez mais. A correria do Natal fez com que o lesse somente agora. Eu queria ler com calma e refletindo. Parabéns!
    Abraços. Elenir

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  6. Olá, Newton. Finalmente, consegui pegar seu conto e o li num fôlego só. Embora seja um conto, senti um certo ar de crônica, talvez por causa da linguagem que me fez lembrar a das crônicas que saem (saíam) em jornais, e as quais eu sempre curtia bastante. Uma curiosidade é que coincidentemente embora eu só tenha tocado de leve no assunto, nós acabamos levando o tema futebol para nossos contos, assim como também coincidimos parcialmente no tema internet no concurso do ano passado.
    Mas o que teve no seu, eu considerei que faltou no meu: achei que o seu texto fluiu bem mais leve que o meu. Ele corria levemente. Como eu disse antes, eu devia tê-lo esmerilhado mais. Um abraço e Parabéns!

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  7. Newton,
    Gostei do conto. Veio logo depois da crônica da Rita e certamente enviesou o modo como o li. Vi em Zé e em seu amor os ecos das lembranças de infância e como influenciam o presente. Zé e Rosa agora como pais têm decisões a serem tomadas. A eminência de uma vida sofrida sem emprego, sem respeito. A vergonha do adulto agora pai, em não conseguir o sustento de sua família.
    E a gente vê o Zé todos os dias pelas ruas. São os trabalhadores da construção civil. Gente brava e batalhadora que trabalha debaixo de sol para manter o sustento de sua família. Trabalho pesado que consome a saúde do indivíduo. O Zé está nos portos, nos estádios, nas avenidas, nos aeroportos... O Zé deve estar também em um dos maiores grupos de risco para o câncer de pele. Sem falar das lesões por esforço repetitivo. Mas ele nem pensa nisso, pois tem dever a cumprir. Sorte para o Zé e para todos os Zés batalhadores! Que além do trabalho, nele encontrem dignidade.
    E este Zé tem sorte! Tem um esposa inteligente e sensível. E um filho para nascer. Quem sabe ele não fira um juiz?

    Nesta virada de ano, desejo um Brasil cada vez mais inteligente, bem sucedido e batalhador que, como Zé e Rosa, lutam por uma vida digna para seus filhos.

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  8. Valeu gente, pelos comentários. Muito bom esse retorno, ajuda na avaliação do que foi escrito e estimula a melhorar os próximos textos.
    Cíntia, de fato o Zé e a Rosa somos nós, brasileiros, com nossos problemas, nosso cuidado com quem amamos e nossa coragem. Pensei agora que talvez este filho que vai nascer possa ser justamente o novo país que tanto desejamos. Grato a todos e um grande abraço de Natal!

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  9. Newton, não li os outros contos, mas posso lhe afirmar que ao ler o seu, com o coração arrebatado pela sua genialidade, não conseguiria deixar de lhe conferir um lugar entre os melhores. Penso até num PRIMEIRÍSSIMO LUGAR. Parabéns, você é um contista maior mesmo. Seu conto tem um movimento interessante, além de a cada mini-capítulo surpreender, até quando nos deparamos com a SURPRESA DO GRANDE FINAL, que descontrai o leitor, pois afinal tudo acaba bem para os personagens desse drama urbano. GOSTEI MUITO MESMO.
    Bjs. Angela Ellias.

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  10. Newton,
    Estou lendo os contos devagarinho, pq o tempo é curtíssimo.
    Gostei muito do seu que me trouxe lembranças boas e más. Esse gosto salgado de um grito maior do mundo quando um menino presencia o pai bêbado, batendo, xingando, espancando a sua mãe, foi sem dúvida o que mais me tocou. Hoje o meu filho faz 29 anos e enquanto lia o seu conto, eu me lembrei muito dele. Lembrei daquele menino que deve ter para sempre esse gosto salgado que vem a boca todas as vezes que presencia uma violência e deve sentir esse salgado de volta, que costuma amargar a boca do homem que se tornou, mas que jamais esquecerá as cenas que já presenciou... As coisas boas do conto? Ah muitas! Uma delas foi que o seu conto lembra muito “A Maior Ponte do Mundo”, de Domingos Pellegrini. Muitos parabéns!!

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  11. Newton,
    Estou lendo os contos devagarinho, pq o tempo é curtíssimo.
    Gostei muito do seu que me trouxe lembranças boas e más. Esse gosto salgado de um grito maior do mundo quando um menino presencia o pai bêbado, batendo, xingando, espancando a sua mãe, foi sem dúvida o que mais me tocou. Hoje o meu filho faz 29 anos e enquanto lia o seu conto, eu me lembrei muito dele. Lembrei daquele menino que deve ter para sempre esse gosto salgado que vem a boca todas as vezes que presencia uma violência e deve sentir esse salgado de volta, que costuma amargar a boca do homem que se tornou, mas que jamais esquecerá as cenas que já presenciou... As coisas boas do conto? Ah muitas! Uma delas foi que o seu conto lembra muito “A Maior Ponte do Mundo”, de Domingos Pellegrini. Muitos parabéns!!

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  12. Obrigado Angela Ellias e Lilian pela leitura e pela força. A história é toda ficção, mas a violência doméstica é uma realidade odiosa e ainda presente - e provavelmente não apenas em nosso país. Um dia, quando um taxista, que eu nunca havia visto antes, me contou como, adolescente, partira para cima do pai bêbado, para impedí-lo de continuar espancando sua mãe (do taxista), eu senti que aquele homem, já na meia-idade, ainda guardava no peito aquela dor. Havia em sua voz todo o embargo de um "salgado" choro interior. Aquilo ficou comigo, como se também fossem algumas gotas daquele mar salgado, daquelas ondas traumáticas, como se ele me tivesse arrastado para seu afogamento, quem sabe tentando inconscientemente que eu lhe jogasse alguma bóia salvadora, que obviamente eu não possuía naquele momento para lhe dar. Aquela foi uma breve corrida de táxi pelo centro do Rio de Janeiro, mas, sem que eu percebesse, essa história ficou em mim e acabou brotando no meio deste conto. Não havia previsão disso acontecer, mas aconteceu. Há uma certa agressividade no personagem Zé, que é uma excelente e boníssima pessoa. Talvez tenha sido a agressividade que o taxista me passou, ele que também me pareceu uma pessoa do bem. Eu sentia como se ele tivesse raiva da própria raiva que carregava. Essas coisas ficam na gente. Abs.

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  13. Meu querido Newton:

    Seu texto vai para além da técnica de escrever contos..

    Aparentemente simples, há nele algo invisível, quase inatingível!
    Sinto seu conto ligado inexoravelmente à sua vida, não por semelhança, mas por ideologia.

    Tudo pelas posições morais que sustenta, e pela maneira apaixonada como vive seu trabalho de escritor.

    Nosso país é novo para que seus pares do ofício e da arte de escrever possam reparar na singularidade de seus companheiros?
    Creio que sua obra, e leio há mais de um ano, necessita chegar a um número maior de pessoas, que na verdade anseiam por ela.

    Não poderia deixar de exaltar sua lição humana, seu quase “otimismo pedagógico”, tão emocionado com os operários que o ensinaram de certa maneira.

    Contra as injustiças e misérias (seu toque rousseauniano), desconfiado do papel que o dinheiro assumiu na sociedade e o poder e consumismo na sociedade da cultura pós–moderna! Sei que vc estuda muito sobre isso, e isso o faz, cada vez mais, passional!

    Seu conto, bem melhor que o seu próprio premiado do ano passado, mais complexo, mais existencial, mais ético-moral, tem essa soma de sofrimento, dureza e ternura.

    Não é de graça que vc, Newton, é um escritor carismático, sabe argumentar e tem argumentos contundentes que me calam! Mesmo aqueles que não o aprovam, sabem que seu argumento no conto vem de um verbo moral, de decifrar a sedução do enigma.
    Do seu, do meu e de todos nós! Percebo isso em todos os seus contos, como uma linha de que você pesquisa, sem linearidade, barroca, totalmente barroca!
    No conto sobre o operário, novamente, me vem a geometria, como se você estivesse esculpindo formas, e da sensibilidade, a razão e o sentido da beleza que um dia o ferira para sempre.

    Sua linha de trabalho funde em parte, com o da Rita, pelas identificações. Tal como ela há algo de aristocrático no seu conto! Mas o sentido não é o atual, de um grupo privilegiado, com dinheiro, terras e direito hereditário, mas o sentido grego original = aristos = “os melhores"; kratos = "agir, proceder"!

    Ao ler o conto, as pausas fizeram-me lembrar a sua própria dialética.

    Fatima Namen

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  14. Newton e Rita
    Já havia lido os belos contos de vcs e postei em email do CAEL. Volto hoje com mais calma para apreciá-los devidamente. Rita nos leva com sofrimento e leveza ao nosso tempo de apertos na vida de crianças. Newton trás o Zés e Rosas da vida e a leitura vai nos prendendo até o fim.
    Com formas diversas de narrar, o casal nos brinda com mais esse belo trabalho!
    parabéns e beijos da Luzia

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  15. Parabéns Newton! Simplismente encantador. Beijos.
    Fátima Araújo.

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