Nossa última entrevista de 2012 é um presente de Natal para todos os participantes do Clube. Com muito
orgulho, o CLIc traz para você uma entrevista
exclusiva com o grande escritor Chico Lopes, nosso participante virtual via
facebook.
Chico foi agraciado este ano com o Prêmio Jabuti para seu
livro mais recente, O estranho no corredor, sua primeira novela.
São dele também os
livros de contos Nó de sombras (2000), Dobras da noite (2004) e Hóspedes do vento (2010).
Além de escritor, Chico Lopes, nascido em Novo Horizonte ( SP), é pintor, crítico de cinema e literatura. Vive em Poços de Caldas (MG) desde 1992,
e desde 1994 trabalha no Instituto Moreira Salles como programador e
apresentador de filmes.
Confira a entrevista
By: Rita Magnago
Para nós do CLIc é um prazer muito grande
ter um escritor de renome e premiado como participante virtual. Como surgiu essa interface com o Clube? O
também escritor e amigo comum Carlos Rosa tem um dedinho aí?
Foi sim o Carlos
Moreira Rosa quem me falou primeiro do clube e disse do prazer de estar aí com
vocês, batendo papo sobre livros. Daí, fiz contato com Helena (Eloisa Helena) e esse papo
começou a se tornar mais contínuo e a troca de ideias cada vez mais
interessada. Tenho prazer e honra em ser entrevistado por vocês. Acho essas
iniciativas - clubes de leitores, círculos de adeptos de autores, cultores da
Literatura por prazer estético - fundamentais.
Que tipo de discussões literárias, temas
contemporâneos ou imortais você recomendaria para alavancar ainda mais nosso
clube na rede?
Não tenho outras
sugestões a fazer. Vocês estão no caminho certo, e a simples existência do
clube já é uma coisa bastante democrática, aberta às discussões, né? porque a
literatura propicia isso, um diálogo civilizado entre pessoas baseado em gostos
e concepções de vida. Vi que as escolhas do clube são ecléticas. Quanto a meus
gostos pessoais, tenho uma grande propensão a ler clássicos (e a relê-los), de
modo que a única coisa que me parecia interessante seria incluir títulos para
Releitura, resultado de uma votação entre vocês que elegesse quais livros
seriam dignos de uma repassagem. Porque aprendi, com o tempo, que livro relido
é que é livro conhecido de fato. A primeira leitura pode ser apaixonante e
agradável, mas a segunda e a terceira são iluminadoras do autor e da obra.
Qual a sua relação com os leitores? Eles
costumam interagir e opinar sobre suas obras, enviam sugestões para novos
livros?
Minha relação com os leitores, em geral, é de surpresa. Eles sempre
enxergam em meus textos coisas que me espantam um pouco, porque eu não as tinha
visto, e aí surge essa coisa que acho fundamental: a compreensão de que houve
um ganho, um entendimento que só a literatura pode propiciar, e que esse ganho
foi de parte a parte, porque um escritor também só cresce e se humaniza
amplamente quando é lido. Lígia Fagundes Telles dizia que escrevia para ser
amada. Creio que é a melhor definição possível. Ao escrever, damos algo do
fundo de nós que tem esta expectativa: a de amor, de compreensão, de
solidariedade transcendente. Sentimo-nos amados, quando bem lidos. Sentimo-nos
compreendidos num plano superior ao da vida comum. Sempre respondo a todos os
leitores que me escrevem, e tenho tido a sorte de não pegar nenhum daqueles que
são particularmente azedos e ressentidos e querem nos punir por alguma coisa.
Se eles me dão sugestões, levo-as em conta. Um livro é sempre feito para o leitor,
ainda que possa ser o mais complexo e subjetivo possível.
Como é a rotina do escritor Chico Lopes?
Escreve todo dia? Tem hora certa para escrever? Escreve direto no computador?
Não tenho hora
pra escrever não, mas tenho uma rotina de entrar cedinho no computador pra
fazer os trabalhos que exerço, de tradutor e autor de orelhas, quartas capas e
releases para editoras (como a Geração Editorial, de SP) e a Rocco, do Rio.
Assim, vou mesclando o trabalho de tradutor com a troca de e-mails e mensagens
no Face e, pelo meio, cuidando de meus romances e contos, quando o "santo
baixa", por assim dizer. Acredito que há momentos especiais, em que a
sensibilidade, a imaginação e a memória se aguçam, e estes são os melhores para
a criação pessoal. Quem disser que inspiração não existe estará dizendo
meia-verdade. O trabalho regular é essencial, mas a inspiração tem uma
qualidade única, fecundante, quando desce, e ajuda muito na criação. Há coisas
que nos chegam de vias misteriosas do inconsciente e podem ter um efeito
decisivo sobre a criação. Os sonhos, os devaneios, as impressões súbitas, os
palpites e intuições irresistíveis...
Seu livro mais recente, “O estranho no
corredor”, está na lista do CLIc para futuras votações. É sua primeira novela,
recheada de mistérios, não é isso? Que aspectos você gostaria de destacar no
livro?
Quanto ao meu
livro, ele propõe um pacto com o leitor, de certo modo - trata-se, na verdade,
de um jogo psicológico. Ele se desdobra entre realidade e fantasia, passado e
presente, acompanhando um homem que se acha perseguido por outro, o
"estranho no corredor" do título. Creio que o fundamental foi
estabelecer uma tensão de novela de suspense, no início, mas está longe de ser
um livro policial ou algo do gênero. É mais um mergulho na psicologia de um
homem à procura desesperada de sua identidade.
O que você acha que um país como o nosso,
com um índice tão baixo de livros lidos anualmente, poderia fazer para
estimular o hábito da leitura? E qual o papel dos clubes de leitura nesse
contexto?
Olhe, esse é um
enorme problema... Já dei muitas palestras e falei com públicos de diversas
faixas etárias e graus de instrução. O que me parece é que o desestímulo à
leitura parte das próprias famílias que, mesmo abastadas, já não parecem dar a
mínima para a cultura letrada. Uma vez li numa revista (creio que na Carta
Capital) uma pesquisa interessante sobre a quase inexistência de estantes nos
lares brasileiros... Mas, se você prestar atenção, televisão, todas as casas,
mesmo as mais humildes, têm. Quase sempre também o mercado incentiva a
facilidade, os livros com imagens, mastigadinhos, lisonjeando o público para
tentar vender de qualquer modo, e é quase como se os autores se desculpassem
diante do público quando produzem obras difíceis, dizendo, para vender, que tem
uma pitada disto e daquilo, enfim, a preocupação mercadológica, comercial,
dispara absolutamente na frente e, como o público, mesmo o instruído, tem uma
propensão à displicência, e por vezes é apenas semiletrado, está pronto o caos.
Os escritores que propõem alguma coisa mais séria, mais esteticamente engajada,
se sentem perdidos, não são ouvidos. A sociedade do espetáculo e da frivolidade
não quer saber deles. Por isso os clubes de leitura, mesmo existindo em pequeno
número, me parecem um pouco com aqueles abnegados que, no fim do filme Fahrenheit 451, quando todos os livros foram queimados, ainda se reúnem para
conversar uns com os outros, encarnando personagens e recontando histórias
clássicas...
Excelente! Um belo presente de poeta Nöel!
ResponderExcluirO escritor aceitaria uma entrevista aberta com os leitores do CLIc-gmail, CLIc-Twitter, CLIc-Orkut e/ou CLIc-Facebook caso seu livro fosse o "livro do mês"?
Parabéns pela matéria, Rita!
Parabéns a ambos: Chico Lopes, entrevistado, e Rita Magnago, entrevistadora. Boas perguntas, excelentes respostas. Principalmente,a última questão colocada. Aguardo, ansiosa, a leitura de "O estranho no corredor". Desejo-lhes Feliz Natal e Ano Novo!
ResponderExcluirCordiais abraços.
Elenir
Belo trabalho esse da Rita. Escolheu o Chico para entrevista e escolheu muito bem. Recomendo todos os livros dele, não só o último e premiado "O estranho no corredor".
ResponderExcluirUm grande abraço.
Carlos Rosa Moreira.
A sacerdotisa do CLIc é um dos destaques desse Clube, recheado de escritores premiados, almas elegantes e leitores inteligentes.
ResponderExcluirTudo muito bom. Parabéns CLIc!!!!!!!
ResponderExcluirParabéns Rita, pela entrevista! obrigada Carlos Rosa, por ter facilitado a entrevista !
ResponderExcluirComo é bom saber um pouco do escritor, que muitas vezes, apenas idealizamos através do livro.
Já estou ansiosa pela leitura do "O estranho no corredor" e quem sabe contar com a presença do autor no dia do "debate" ?
Carinhoso abraço, Norma
Amigo Carlos, por lapso, pois és merecedor também, não te enviei meus Parabéns pela facilitação da entrevista a Chico Lopes. Valeu a indicação dos outros livros desse autor. Não tens, apenas, uma alma elegante. Seria pouco. Tua alma é sensível e fraternal.
ResponderExcluirAbraços. Feliz Natal!
Elenir
Puxa, obrigado por todas essas manifestações! Elenir, claro, se cheguei ao clube foi via Carlos e Helena, e agradeço muito a esses dois. Tudo de bom pra vocês aí, neste fim de ano, muitas cervejas e muitos abraços. (Chico Lopes)
ResponderExcluirAdorei! Agradeço a Chico Lopes, o carinho e atenção com que me recebeu em seu rol de amigos virtuais, após a indicação de Carlos Rosa, um escritor e amigo que aprendi a apreciar.Enfim construimos através do CLIc uma rede de conhecimentos culturais e divertidos. Agradeço a Rita , a inteligente entrevista que nos oferece no BLOG do ClIc. Enfim, só podemos almejar o crescimento dessa rede de amigos na busca de mais e mais leitores. E que venham mais e mais bons livros enriquecer nosso intelecto, assim como O estranho no corredor.Feliz Natal e bos leituras!..Que todos possamos ter uma Noite Feliz!
ResponderExcluirCarinhos da Elô(Helena , no Face).
Meio atrazada,acabo de ler esse "cantinho",onde me surpreendi com Chico lopes e os entrevistadores...Parabens a todos..Ceci
ResponderExcluirSou a favor de lermos no Clube e convida--lo
Maravilhosa entrevista! Parabéns, Rita, Chico Lopes e CLIc!
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