Versos |
Clarice viu o que não estava lá
e eu ainda no óbvio
não sigo seus passos
recuo, refaço e nada
a meus olhos as mesmas
letras irreveladas
tal qual sua imagem
sisuda e compenetrada
vegetando em cada hiato sem criação.
Insisto ainda
debato comigo
indago a própria pergunta
a necessidade de entender
o que foge a meu parâmetro
o que está distante do que penso ser.
Começa a doer repensar o que
julgava certo, seguro, sem risco.
Revolvo o velho presente
cavuco arraigados conceitos
aderidos às membranas do costume.
Perco o chão, o foco, o limite
me vejo na vida feia e suja
lutando pela sobrevivência
em silêncio.
Vejo através de mim e além
enxergo o tempo contínuo
nada nunca passou nem passará
o tempo se me corre.
Meu prédio inteiro rui
arcabouços de humanidade desabam
rótulos navegam em meu sangue
de barata
à procura do ralo.
Quebro o que era hermético
testemunho a dor gigante
sou disforme
uma massa branca
desconexa e solitária.
Tenho medo de mim.
Provo, desconheço
atravesso, abandono,
mato e ressuscito-me,
mais densa e amadurecida
pelas mãos dessas páginas.
Rita Magnago
Travessias
* * *
Abujamra declama Clarice
Rita Magnago
Entrevista com Clarice Lispector
Senti
muito, Êlo... esse trecho em especial revelou muito do livro para mim.
O momento do impacto, de estar presa ao horror, ao momento, ao
silêncio, que a levou ao confronto com si mesma. Muito especial, Clarice
Lispector, uma excelente escolha! Beijos, querida.
(Maria Lucia)
Olá Leitor CLIc, bem vindo ao encontro de si mesmo |
+ Clarice
Eca! Ainda tinha que se mexer? Depois a repugnante sou eu, cruzes.
ResponderExcluirLiving (my way), reading (the authors of CLIc) & learning, whatsoever!
ExcluirAnd yet, always witty. That´s the main learning, I think. Congrats!
ResponderExcluirEstou quase desistindo de ler o livro só por causa dessa barata repugnante!
ResponderExcluirpor Carlos Drummond de Andrade
ResponderExcluirClarice
veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo
Onde a palavra parece encontrar
Sua razão de ser, e retratar o homem.
Levitando acima do abismo Clarice/ riscava um sulco rubro e cinza no ar e
Fascinava-nos./
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde/
Mais tarde, um dia... saberemos
Amar Clarice
Fonte: Jornal do Brasil, 09/12/1997
Nossa esse vídeo é muito bom. Cara tem uma tensão entre Clarice e o entrevistador quase palpável. Tive medo que em determinados momentos ele voasse na garganta dele. Pra falar a verdade eu também não gostei muito dele não. A todo momento ela dizia que não se considerava uma escritora e o cara continuava a denomina-la como tal, será que ele queria fustiga-la? Bem, ela claramente não estava num momento propício a entrevistas. Mas reconheço que o cara não poderia perder a oportunidade, ja que ela não gostava de conceder entrevistas. No entanto, em nenhum momento ela ficou a vontade com ele e ele não teve a preocupação em deixá-la a vontade. Que disperdício! Enfim, ela me pareceu mais do que autentica, pois não se preocupou em mostrar sorrisos quando não havia vontade de sorrir. Foi sutil, mas inflexível em algumas posições (que achei muito pertinente). Clarice encarnou a função de escritora nessa entrevista, como ela bem esclareceu quando o jornalista lhe perguntou qual é a função do escritor "falar o menos possível". Enfim, eu detestei o entrevistador (rsrsr). Ela estava gloriosa em sua reticência.
ResponderExcluirParabéns pela escolha do vídeo.
Sobre o vídeo da declamação, dialoga muito com o que consta na pág 11:
ResponderExcluir"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação"
Clarice é espetacular! Ela tem toda razão. Uma das minhas maiores felicidades foi ententer que não precisava entender tudo. A vida desse momento em diante ficou flutuante, igual nuvem.
ResponderExcluirQuando ouvi falar sobre este livro a primeira vez,era adolescente e ouvi um "resumo" que não era resumo e sim só falava da barata.
ResponderExcluirE lembro de ter dito que nojo,que livro horrível.
É o primeiro livro de Clarice que leio,pelo o que me lembre pelo menos. Não a acho misteriosa,e sim bastante questionadora e profunda.
Mas,agora lendo,vejo que a barata não é relevante,na maior parte do texto esqueço até que ela exste.
Diante da barata viva, G.H. descobre o que considera a sua pior descoberta: "a de que o mundo não é humano. E de que não somos humanos".
ResponderExcluirLílian postou isso no Face e fiquei me lembrando da entrevista do Carlos, feita pelo Newton. Não exsitem baratas nem humanosrsrsé o que concluo depois de ler Eneida, somos todos ficções.
Depois desse livro, não posso mais ouvir alguém dizer que gosta de massa... Se falarem em "massa branca" então... Eis que os livros de receita ficaram repugnantes para todo o sempre. Esta é uma questão existencial das mais periclitantes...
ResponderExcluirAmei, Newton1rsrsr
ResponderExcluirMelhor resenha do livro que eu já li até agora...
ResponderExcluirhttp://ligiabaleeiro.blogspot.com.br/2013/02/clube-do-livro-1-paixao-segundo-gh.html