Yann Arthus-Bertrand captures fragile Earth in wide-angle
Recentemente
a Unesco cedeu ao Rio de Janeiro o título de Patrimônio Mundial da Humanidade,
na categoria Paisagem cultural. Foi a primeira vez que uma paisagem urbana foi
escolhida para se transformar em patrimônio. Notícia que dá orgulho ao povo
carioca. O Rio é, de fato, uma Cidade Maravilhosa, abençoada por um relevo de
montanhas e belas praias. Bonito por natureza! É, mas quem mora aqui sabe que
viver no Rio não é assim tão maravilha. A qualidade dos serviços públicos deixa
muito a desejar (ensino, saúde, segurança, transporte, limpeza e planejamento
urbano. Só para citar alguns.). Um problema, aliás, que afeta todo o país.
Sendo atividades prestadas pelo Estado à sociedade é nosso direito (e dever
como cidadãos) fiscalizar, cobrar e, mais importante, ter na memória o que o
Estado faz de bom e ruim. Ponderar, comparar com outros governos e, nas
eleições, não se isentar em escolher direitinho a quem dar poder de decisão e
quem deixar bem longe deste papel. Afinal é nossa qualidade de vida que está em
jogo. Mas existe algo a mais que podemos fazer? Sem
deslocar o foco de responsabilidade do Estado para o indivíduo: o
problema é só o serviço público de baixa qualidade?
Quantos
são os autores e compositores que eternizaram o Rio de Janeiro em suas obras?
Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Bandeira,
Vinícius de Moraes,... São tantos! E como é bom ler e ouvir sobre nossa cidade.
Uma viagem no tempo! Mas, ler deveria ser muito
mais que uma intrusão no texto, um desfrute de prazeres e sensações de
terceiros. Como sugere Ana Maria Machado em seu livro "Infâmia", o
leitor deve ser capaz de não se excluir do real ao ser intruso no fictício.
Sendo assim, como cidadãos leitores de nossa cidade, temos duas escolhas, sermos
somente intrusos, desfrutando das belezas naturais e reclamando das mazelas
urbanas, delegando-as ao poder público, ou leitores que não fogem de suas
parcelas de responsabilidade, que exercem suas cidadanias.
Se
nossa cidade fosse um livro, como a leríamos? Se eu lesse as grandes festas
populares, como a Virada do Ano e o Carnaval, leria, além da beleza da música,
da alegria do povo, pessoas mijando em espaços públicos: na areia da praia, nas
árvores, nas paredes de prédios. Leria uma cidade que fede. E muito! Se eu
lesse o trânsito leria motoristas impacientes, estressados, com pouca noção de
direção defensiva, andando alcoolizados, colados ao veículo à frente, lançando
farol alto para forçar a liberação de pista, acelerando ao ver um veículo que
dá sinal de mudança de faixa, bloqueando cruzamentos, desrespeitando à sinalização. Leria motoristas subornando
policiais de trânsito. Se em minhas leituras percorresse as ruas, leria muito
lixo. Pessoas deixando seu lixo por onde passam (no banco de espera de um ponto
de ônibus, pelas calçadas, pelas janelas de ônibus, carros, caminhões). Lixos
residenciais, resto de entulho ou poda de árvore em terrenos baldios (Bastaria chamar o
serviço de coleta público gratuito, mas jogar no terreno baldio da esquina, ou
no rio é mais rápido!).
Será que eles vieram de nós mesmos? |
Qual
impacto temos sobre o ambiente urbano? Estamos orgulhosos de nosso papel? É
urgente repensar a relação do cidadão com sua cidade. Talvez neste sentido faltem
campanhas educacionais promovidas por orgãos governamentais, mas falta algo
ainda mais básico. Falta educação, um conceito muito
mais amplo que educação escolar. Que vai além da responsabilidade da política
pública e de sistema educacionais formais. Falta
aquela educação que se aprende em casa. Uma geração inteira de famílias parece
ter se isentado deste papel. Pais isentos ou permissivos que não souberam
educar seus filhos, e criaram uma geração de homens e mulheres pouco cientes de
seu papel social e da importância de ser um cidadão. Parece que o indivíduo preza tanto a liberdade, a segurança dos seus
direitos em questões privadas que esquece seus deveres. Falta educação
na mídia, na sociedade, para servir de exemplo ao jovem e ao adulto que não
aprendeu. Não aprendeu que o seu direito é também o direito de todos.
Ser cidadão é ser um sujeito crítico, é desenvolver atitudes de solidariedade, aprender a dizer não ao que é imposto pela mídia, é adotar uma postura, é fazer escolhas, é despertar para as consciências dos direitos e deveres, lutar pela justiça, valorizar a pessoa humana, a dignidade necessária para todos.
Ah, quem dera se não soasse, inocência, utopia, pieguice, hipocrisia ou tom professoral. Quem dera se alguém visse um apelo, um convite a fazer melhor em um espaço de construção compartilhado. Por que a função de um Clube de Leitura, também é estimular bons leitores. Através de mudanças de atitudes individuais, podemos servir de exemplo a nossos filhos, amigos,... a um estranho que nota. Eu acredito.
Ah, quem dera se não soasse, inocência, utopia, pieguice, hipocrisia ou tom professoral. Quem dera se alguém visse um apelo, um convite a fazer melhor em um espaço de construção compartilhado. Por que a função de um Clube de Leitura, também é estimular bons leitores. Através de mudanças de atitudes individuais, podemos servir de exemplo a nossos filhos, amigos,... a um estranho que nota. Eu acredito.
"Cidadania não é uma
lição a ser ensinada. É uma postura que precisa ser estimulada. Postura essa
que possa fazer nascer em cada um, o sentimento do que é viver em prol do
bem-comum. O conceito se refere sim a direitos e deveres civis e políticos, mas
não podemos nos esquecer de que é necessário que esses direitos sejam pensados
por meio de valores éticos. É necessário conjugar cidadania com diversidade,
justiça, dignidade." (educação pública)
Se aqui fosse o face eu clicaria em CURTIR. Acredito também. "Depende de nós..."
ResponderExcluir