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12 de fevereiro de 2014

Ilnéa Miranda está no Clube de Leitura Icaraí - 15 anos entre livros

Os Filhos Ocultos de Eva

Dos numerosos ditos populares ligados à visão, talvez o mais conhecido e mais óbvio seja o que afirma que os olhos são as janelas da alma. O significado deste adágio entretanto, como quase tudo na sabedoria popular, corre em mão dupla:- o olhar não nega o que a alma vê e sente. E olhos seguem por aí reconhecendo e expondo almas ao mundo do jeito que lhes parecem. Alguns, porém, fazem-no de forma única, muito peculiar.

Que olhos, por exemplo, seriam aqueles que descrevem e desenham fadas, elfos, gnomos, bruxas, duendes e toda sorte de pequenas entidades elementais habitantes de uma Terra de Maravilhas que, para a maioria dos humanos, só existe no imaginário das histórias infantis? 


Janet Hill
Para mortais comuns, de olhar cotidiano e adulto, uma abóbora é uma abóbora e, quando vêem uma delas, o máximo que conseguem, em bissexto rasgo de criatividade, é imaginá-las servindo de recipiente próprio para o quitute especial da casa da sogra ou do restaurante favorito. Aos privilegiados, contudo, é dado enxergar, no trivial e rotundo legume, a carruagem da princesa. 

A mitologia islandesa  conta que Eva estava banhando seus filhos no rio, quando Deus falou com ela. Assustada e temerosa, escondeu aqueles que ainda não tinha banhado. Deus perguntou-lhe se ali estavam todos os filhos que tinha e ela respondeu que sim. O Senhor então declarou que aqueles que ela ocultara Dele seriam mantidos fora do alcance de visão humano. E os filhos ocultos de Eva se transformaram em seres encantados.




Quem sabe alguns deles não conseguiram transpor a barreira imposta por Deus e não se misturaram aos homens disfarçados de escritores e ilustradores dos mitos e lendas desse Reino Encantado de todas as culturas? Talvez nem mesmo eles tenham consciência da tarefa escolhida, e nem percebam que seu olhar vai além da forma da folha, ou da planta, ou de uma gota que faz cintilar a luz do sol. Este olhar especial reconhece os pequeninos seres que ali se escondem, mas só se mostram a seus iguais e, quem sabe, a uns poucos escolhidos cuja retina repousa na alma.




Não importa. Para estas pessoas incríveis e neste lugar onde fantasia e realidade de misturam, se fundem, se confundem e se completam, só o impossível é impossível. Tudo o mais, simplesmente, é.




Ilnéa é natural do Estado do Rio de Janeiro e moradora de Niterói. É escritora, tradutora, terapeuta vibracional, contadeira de histórias... e advogada das coisas em que acredita... e, faz tempo, acredita no CLIc!

"Sou do tempo da Ver & Dicto, penso que bem no princípio... e para lá me fui pelo carinho de Norma Lannes, amiga, sim, desde os tempos do Ballet de Eunice Linton. Poderia eu ter guia melhor?"

Seu livro "Eu Menina Toda Prosa... e alguma Poesia" foi debatido no clube de leitura Icaraí em Setembro de 2012




 

3 comentários:

  1. Salve, Ilnéa. Seu belo texto me lembrou de outro ditado popular que vem ao caso:"Há mais mistérios entre o céu e a terra do que toda nossa vã filosofia."

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  2. Os que criam, os que veem o que ninguém vê, são mesmo especiais, competidores com deuses. Adorei seu texto.
    Um breve tira gosto do que vem por aí.

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  3. Nesta manhã que o sol ainda está escondido, uma brisa calma me vem da leitura desse texto tão poético! Maravilhoso! Parabéns Ilnéa e vamos caminhando para setembro...
    Bjs Luzia Veloso

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