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7 de junho de 2012

Debate: Escolha dos Livros no CLIc



No debate realizado em Maio de 2012, a sessão plenária do clube de leitura decidiu alternar a nacionalidade de autores dos livros a serem escolhidos entre brasileiros e estrangeiros. Com o intuito de esclarecer ao máximo a questão, passamos a veicular as opiniões dos protagonistas e interessados nesta discussão:


Achei a ideia interessante e tb, não custa experimentar.
Sugiro que em vez de autor nacional, seriam autores de lingua portuguesa, pois ampliaria nossos conhecimentos desta vasta faixa de paises co-irmãos nas origens.

Ceci

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Também acho interessante mergulhar mais a fundo em nossa literatura, desde que nesta dinâmica cíclica, sem fechar também espaço para grandes obras de fora, mas eu tenho em mim também essa curiosidade em saber mais sobre nossos autores e ver suas obras discutidas em nosso excelente grupo, e como foi  o que venceu, acho que, bem mais do que nacionalismo, foi isso que mobilizou a maioria - a simples curiosidade nessa estética/forma de escrever de alguns autores brasileiros, que não passaram por tradução e que, assim, além da estória/conteúdo, tenham uma forma interessante para ser conhecida melhor... pelo menos falo por mim, eu tenho essa curiosidade.

Fernando

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Já que esse debate foi, de certa forma, reaberto, ao introduzir-se a dúvida "Só brasileiros X Autores de Língua Portuguesa", coloco à consideração dos prezados amigos o seguinte:

  1. Creio que a (boa) ideia de lermos periodicamente autores nacionais deve-se ao interesse de não descuidarmos do conhecimento e de debatermos sobre a literatura brasileira, que trataria de nossa realidade com mais precisão - o que constatamos na bela leitura recente de Lima Barreto. Essa foi a intenção, acredito. Então, nesse caso, não tem nada a ver misturar os excelentes autores portugueses, moçambicanos, etc, nesse rol, pois, por melhores que sejam, não atendem a esse objetivo de conhecermos a nossa própria expressão escrita sobre a nossa realidade, ou a percepção brasileira sobre a nossa e outras realidades.
  2. Dito isso, creio que os demais autores de língua portuguesa ainda se inserem entre os estrangeiros, de ponto de vista de seus pontos de vista sobre o mundo e as pessoas, por mais que tenhamos a afinidade da língua.
  3. Mas, contudo, porém, todavia... creio que a "estatização" (eu diria "nacionalização") foi exagerada. 50/50 me parece um índice bem alto. Penso que 1/3 (pré-fixados) estaria de bom tamanho. Em um ano, leríamos pelo menos 4 autores brasileiros. Nos outros 8 estariam para votação os de todos os outros países, inclusive os de língua portuguesa.

Só estou submetendo essas sugestões por conta de perceber que ainda há uma ânsia em aprimorar o espírito do que foi votado na última assembleia... digo, reunião.

Newton

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Por que será que o Cinema Nacional criou leis de proteção , exigência de um percentual de filmes brasileiros para  exibição?

Será que  as mídias protegem alguns grupos e autores?  Haverá corporativismos?

Elô

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Oi Elô, Fátima, Elenir... todo o grupo!

Elô, a "proteção" ao cinema nacional - que atualmente nem sei se existe - se justifica, em minha opinião, porque se trata de uma guerra comercial onde a "concorrência" é nada mais nada menos do que a poderosa indústria cinematográfica americana. É um "rolo compressor" e, penso, nenhum setor econômico nacional deveria ser submetido a tal massacre, pois isso tira qualquer chance de crescimento. Como criar e produzir se não haverá salas para exibição? Como sobreviver se seu produto não consegue ser vendido? Repare que esse rolo compressor, nos filmes, não se implanta pela qualidade, mas sobretudo pela força do dinheiro. Há qualidade, por certo, no cinema americano, mas o aspecto massacrante não fica por conta de um Woody Allen e de outros grandes cineastas, mas sim dos filminhos bem banais, violentos, babaquaras, que nada acrescentam em termos culturais (ou, pior, acrescentam a ideologia da banalização da morte, da violência vazia ou de super-heróis salvadores do mundo, oh, grandes e indispensáveis americanos! o que seria de nós sem eles!).

O caso da Literatura nacional é um pouco diferente, ainda mais no nosso âmbito do CLIc. É certo que, ao entrarmos numa grande livraria, como a Saraiva por exemplo, vemos nas vitrines, gôndolas, ilhas e prateleiras que, dos expostos em destaque, 99% são "best sellers" americanos e alguns europeus. Os livros nacionais expostos, em 101% dos casos, não integram a chamada Literatura Brasileira, nem antiga nem recente. Os poucos nacionais expostos são biografias, ou livros de História, ou livros religiosos... Ficção nacional, romances, contos... raros! E poesia brasileira, já foi tempo, não mais!

Ainda assim, pelo menos as editoras ainda publicam os brasileiros. Resta saber se essa falta de exposição nas livrarias permitirá que continuem a fazê-lo, já que editoras precisam vender os livros que editam. E vender sem expor o produto é praticamente impossível.

Uma das inúmeras vantagens de se fazer parte de um Clube de Leitura como o CLIc é justamente a indicação dos livros a serem lidos. Alguns ou vários desses livros lidos talvez muitos de nós ignorasse, senão a existência, pelo menos a qualidade convidativa à leitura. Muitos são livros que estão "escondidos" nas livrarias. Como teríamos acesso a eles sem o Clube? Como conheceríamos novos autores? Quem nos indicaria a leitura? Um parente? Um vizinho? Isso poderia acontecer numa escala mínima. Em geral ficaríamos à mercê de críticas de jornal (cada vez mais raras ou direcionadas) ou da propaganda das editoras, também questionáveis.

Enfim, estaríamos como os demais leitores, navegando quase aflitos pelas livrarias que "nos apresentam" produtos que nem sempre nos interessam de verdade.

Penso que, num grupo qualificado como o CLIc, essa "obrigatoriedade" de revezamento autor nacional X autor estrangeiro não é tão fundamental, dado que sempre teremos pessoas informadas e sensíveis a nos indicar excelentes livros brasileiros, argumentando com competência para nos convencer o voto. Mas entendo a boa intenção da proposta, que nos "obriga" a vasculhar os nacionais tão "escondidos" pelas livrarias, esquecidos pela mídia, enfim, nos coloca na trincheira de uma luta justa pelo que é nosso e mereceria ser muito mais exposto e propagado pelos agentes culturais e mídia em geral.

Enfim, de uma forma ou de outra, fazer parte do CLIc é muito bom!

Abs,

Newton

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Prezado Concièrge,

Sim, o que eu apoio, e a Ceci também e Dília, assim entendi, é que disputem juntos os escritores de língua portuguesa, mas confesso que apoio mais isso porque acho a proporção 1/1 demasiada. Se, como Newton falou, a proporção fosse de 1/3, aí pra mim estaria bom que na vez do 1 fossem só os brasileiros.

Obrigada pela atenção,

Rita

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Tendo em vista, as opiniões divergentes no nosso grupo, quanto à escolha dos livros nacionais e estrangeiros, alternadamente, ou independente da língua, sem imposição de regras, gostaria de transcrever a reflexão de Italo Calvino, no discurso que proferiu na Universidade de Harvard, ao iniciar o ciclo de seis palestras no ano letivo de 1985-86 para as quais foi convidado, decidindo-se pelo tema: "alguns valores literários que mereciam ser preservados no curso do próximo milênio":

"Minhas reflexões sempre me levaram a considerar a literatura como universal, sem distinções de língua e caráter nacional, e a considerar o passado em função do futuro; assim farei também nessas aulas. Não saberia agir de outra forma."
Abraços.

Elenir

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Mundo, mundo, vasto mundo... literário.
1. autores de outros idiomas
2..autores de língua portuguesa
3.nacionais.
Não tive intenção de que fosse um brasileiro alternado com um de língua estrangeira simplesmente. Por isso, pensei em 1 terço. Deixaria mesmo espaço para os autores de cultura afro e portuguesa, Brasil, e outros idiomas. Mas sei que sendo um bom livro,de qualquer idioma, será  uma delícia.

Elenir, gostei de ter expressado assim seu pensamento, embora discuta certos pontos do Clube. Não queremos discriminações, mas sim oportunidades para a dita  Lit Brasileira.

Bjs , amada!

Elô

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Caríssima Elô,

Deixemos que as oportunidades surjam naturalmente. Quando um de nós ler um livro de autor nacional que nos impactou e  nos deixou com vontade de ler outros da mesma autoria, certamente iremos sugeri-lo e será o escolhido. Aconteceu com os de Lima Barreto, Graciliano Ramos, Carlos Rosa, Machado de Assis, Caio Abreu, Gracinda Rosa, Dalcídio Jurandir e tantos outros. Tudo vai dar certo. A literatura merece.

 Sedutora e fascinante,
 ela chegou pra ficar.
 Palavra, meu par constante
 que me ajuda a caminhar.

Beijos.
Elenir

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Olá Elenir,

concordo muito com o seu pensamento e a reflexão de Calvino está perfeita. Que diferença faz se um bom livro faz bater mais rápido o nosso coração; se podemos escutar os sons, apalpar o mundo e celebrar a vida? Afinal, nosso objetivo é procurar, ler e discutir um bom livro, seja nacional ou estrangeiro, sem imposição de regras...
1 abraço,

Norma

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Olá, meninas Elenir, Norma e grupo!

Desculpem por querer argumentar, mas não concordo que a observação do Calvino seja suficiente para pensar que o livro em si nos basta e nem acho que esta observação derruba/desmerece/desconsidera/ ou mesmo põe um ponto final à discussão sobre a importância da leitura de obras clássicas e dos autores nacionais.

Não que eu ache que basta "qualquer" autor nacional, mas quando pego um livro, mesmo concordando que a literatura é universal, eu me interesso e procuro saber o que há para além dele: o autor, a sua história, a sua nacionalidade, a história que ele tem ou não com o seu país, a originalidade e a forma como escreve, o texto, a narrativa, enfim, não acho que Calvino descartou tudo isso quando disse que a literatura é universal.

O próprio Calvino escreveu um livro imperdível que é "Por que Ler os Clássicos", que nos convida a refletir sobre as diversas facetas de um clássico e depois o próprio autor nos apresenta os seus próprios clássicos. Este livro é um clássico que todo leitor que crê ser a literatura universal deveria ler. Foi um livro que me ajudou a ser cada vez mais seletiva, pois afinal, nós não temos tempo de ler tudo que deveríamos e gostaríamos nem neste e nem no próximo milênio.

Beijinhos e viva a literatura da língua portuguesa!

Lilian

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Elenir: Parabéns pela delicada, mas corajosa informação que não é só do Calvino! É sua e também de muitos amigos! A literatura brasileira é ÚNICA, eu pelo menos adoro! Mas, às vezes, nós ficamos tão identificados com o mundo que conhecemos ou que ouvimos falar desde criança, que cansa!! E gosto da antropofagia!!!!!! Temos que misturar todas as culturas. A forma de pensar de outros lugares é uma viagem, tal como arrumamos as malas para irmos além das fronteiras do nosso mundo, meio conhecido. Mesmo assim, aqui ninguém nega a ESTÉTICA E ESTILO da nossa literatura brasileira!!!!!!!!!!!!!  Se eu pudesse e suportasse as dores leria todos os dias: Clarisse, Adélia, G. Rosa, Nélson R., M. de Assis, Manuel de Barros, e outras dezenas. Aliás, aqui que falam de coisas tão estrangeiras, não é?? Como disse bem a Norma, direito a votação, pois estamos em grupo e brindarmos a vida!!!! O QUE DEVEMOS FICAR EXTREMAMENTE PREOCUPADOS É COM A QUALIDADE DO ARTISTA, ou melhor, com a qualidade do livro em questão!!!!! Mas mesmo assim, como podemos influir os outros, naquilo que achamos estético????? Teríamos que fazer um curso de Literatura, no mínimo, um mestrado. ESSE NÃO É O OBJETIVO DO GRUPO, PENSO EU, MAS NÃO ESTOU AQUI PARA BRIGAR POR NADA!!!!!!!!!!!!  O Benito, querido, mostrou para mim, em poucas palavras, se eu  conhecesse mais a literatura para escrever um romance que o Benites também comentou a beleza, eu talvez gostasse mais do livro. MAS NÃO SENDO DA ÁREA, FICA MAIS DIFÍCIL. No entanto, vou reler, pois acredito em quem fez um doutorado em literatura, e conhece mesmo!!!!!!!!!!

Bom feriado, saudades e beijos a todos. Especial abraço para as corajosas: Elenir, Rita, Norma, e outras que pensam, mas deixam para falar na reunião.

Fátima

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Caros CLIc-leitores,
Por falar em universalidade da literatura, eu tenho esperanças de que a nossa literatura entre numa nova era. Há um crescente interesse pela literatura brasileira e muitas coisas estão acontecendo. Machado de Assis entrou no último mês de maio para a lista de clássicos no Japão, com a tradução de seu "Brás Cubas". O Brasil será o país homenageado ano que vem na famosa Feira de Frankfurt, e até 2020 o Brasil investirá 12 milhões num programa de traduções da literatura brasileira, da FBN, e que tem como propósito divulgar nossa literatura no exterior. O Itaú Cultural já havia criado em 2007 o Conexões Itaú Cultural, um programa ambicioso para fazer o "Mapeamento da Literatura Brasileira" no mundo [veja aba INFO deste blog]... E já foi inclusive realizada uma grande pesquisa com resultados muito interessantes.


É pouco ainda, mas já há algum movimento...

Antonio R

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Oi Grupo,
Vamos refazer a votação sobre a obrigatoriedade de revezamento de livros nacionais e estrangeiros? Achei que a votação da reunião foi desorganizada, confusa, feita às pressas nos últimos minutinhos, quando o pessoal já estava se levantando, pronto para ir embora. A nova votação poderia ser feita aqui, por email, ou na próxima reunião... Se a decisão se confirmar, tudo bem, mas tenho dúvidas quanto à legitimidade do resultado de maio.  
Ao meu ver a obrigatoriedade da adoção de autores brasileiros é desnecessária e foge o conceito de liberdade de escolha, que sempre vi no grupo. Penso ser  mais adequado a grupos de estudo direcionados à literatura brasileira, o que não é o caso.  Não se trata de não querer ler nossos autores, ao contrário, mas é bom ter a liberdade de decidir quando fazê-lo.  Eu mesma estou  há tempos super curiosa para ler "Infâmia", da atualíssima Ana Maria Machado. Mas com a regra do revezamento valendo, não posso sugerir a leitura neste mês, só no seguinte! A regra até nos impede de ler dois brasileiros em seguida, se for o desejo da maioria.
Sempre lemos autores brasileiros e quando não lemos é porque a maioria opta por algo diferente. Isso é legítimo e enriquecedor. Como a citação do Calvino que a Elenir trouxe diz, a Literatura é universal.  Legal nos aproximarmos de nossa cultura, mas também é legal viajar e conhecer as diferentes culturas existentes no planeta em que vivemos.  Acho que a preocupação deve ser quanto a boas sugestões de leitura.
Meu voto é pela liberdade de escolha e voto em "Infâmia", de Ana Maria Machado.

Cintia

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Cintia, querida, tudo bem?

Acho muitíssimo apropriada sua colocação e também voto por tirar os grilhões do grupo. Que o grupo possa, como sempre, votar dentre os sugeridos, podendo até optar pela leitura de livros nacionais por 12 meses consecutivos, caso seja a escolha da maioria.
Também não vejo porque não fazermos a votação por aqui.  Portanto, voto com você, pela total liberdade de escolha e opto pela votação via internet.  Caso este tipo de votação não venha a ser aceita, e caso eu falte à reunião na qual a votação ocorra, desde já nomeio você (‘tadinha), minha procuradora, pra votar na proposta de liberdade total para o grupo.

Beijos,
Rose

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Oi Cintia, assim como a Rose, achei ótima sua sugestão. Eu aliás já tinha perguntado no blog do clube, depois que Evandro colocou a postagem com o simpático e-mail da Elenir, quando faríamos nova votação a respeito, e ia mesmo propor na próxima reunião, mas se puder ser por aqui, tanto melhor.

Meu voto é pela livre escolha pelos exatos mesmos motivos tão bem explanados por você.
Beijos,

Rita Magnago

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2 comentários:

  1. Caro concièrge, o que eu queria saber é até quando a decisão referente ao debate de maio será válida. Não seria bom refazer essa pesquisa nos encontros presenciais digamos, a cada três meses?

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    1. Rita, embora nosso clube de leitura tenha participantes bem assíduos, outros menos, e os que o acompanham apenas através dos diversos canais de comunicação via web, a vida do Clube é decidida a cada reunião pela sua força motiva, os leitores presentes. Por isso, decisões podem ser tomadas em qualquer reunião, sem precisar esperar nenhum prazo pré-estabelecido. Basta você propor a mudança na próxima reunião. Recomendo, no entanto, que seja uma proposta bem definida cujas opções pelos presentes sejam "sim" ou "não", porque é incrível a capacidade que as coisas têm de se complicar em nossas reuniões, com todo mundo querendo variações do que se está propondo e no final ninguém sabe exatamente o que foi votado. Vi muita gente que votou favoravelmente à decisão de Maio argumentar contra ela em nossa troca de emails.

      [ ] Concierge

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